mar 062012
 

Ao passear pelo jardim de casa deparei-me com a cena que o leitor agora contempla.

ninho_passarinho_filhotes

Nidus (ninho em latim)

Pus-me a pensar sobre o mistério da vida que se encerra de modo admirável nessa singela imagem: fragilidade dos filhotes harmônica e aparentemente contraditória com grandeza da vida criada por Deus. Que maravilha!

Os passarinhos em sua fragilidade nos inspiram compaixão. Eles não têm senão um único desejo, viver, ou melhor, sobreviver. Querem comer, crescer e voar. Para isso foram criados. Nisso eles encontram sua felicidade. Quem os ensinou? Ninguém. Não há mestre capaz de ensiná-los senão o Mestre dos mestres. Que instintos ordenados o Criador deu a tão diminutos animais. Compaixão, fragilidade e grandeza. Eis o que se pode ver num ninho. Decidi então recolher nesse post alguns pensamentos dispersos, pouco elaborados. Talvez ainda mais simples que o ninho…

O ninho é essencialmente simples, mas encerra especial beleza. Os latinistas procuraram exprimir essa excelência de diversas formas: “cuique nidus formosus ubique”, “o ninho é formoso para qualquer um e em qualquer lugar”, ou ainda, de modo mais jocoso: “est avi cuique nidus formosus ubique”, que se pode traduzir: “para cada pássaro, seu próprio ninho é sempre belo”. (Há também outra fórmula para o mesmo pensamento: Omni avi, suus nidus pulcher).

Movido pela atratividade dos ninhos e pela curiosidade bíblica, pesquisei algumas passagens do Livro Inspirado a fim de partilhar com o leitor alguns pensamentos. O Deuteronômio dá um curioso conselho a quem porventura encontrar um ninho como esse:  “Se encontrares no caminho, sobre uma árvore ou na terra, o ninho de uma ave, e a mãe posta sobre os filhotes ou sobre os ovos, não a apanharás com os filhotes. Deixarás partir a mãe e só tomarás os filhotes, para que se prolonguem os teus dias felizes”. Em latim: “Si ambulans per viam, in arbore vel in terra nidum avis inveneris et matrem pullis vel ovis desuper incubantem, non sumes eam de filiis, sed abire patieris matrem tenens filios, ut bene sit tibi, et longo vivas tempore” (Dt 22,6-7) .

Na Escritura o ninho é símbolo do aconchego e da segurança: “Si exaltatus fueris ut aquila et si inter sidera posueris nidum tuum, inde detraham te “, dicit Dominus” (Ab 1,4); “Vae, qui congregat lucrum iniustum in malum domui suae, ut ponat in excelso nidum suum et salvet se de manu mali!” (Hab 2,9); “Quis credit ei, qui non habet nidum et deflectens ubicumque obscuraverit, quasi succinctus latro exsiliens de civitate in civitatem?” (Eclo 36, 28).

Aliás, o livro dos Provérbios nos lembra que não convém ao homem ficar sem segurança, errante como uma ave que transmigou: Sicut avis transmigrans de nido suo, sic vir errans longe a loco suo (Pv 27,8).

Tal como as aves, também o homem tem um céu para voar. Ele tende à procura da felicidade. É o nosso instinto e para isso fomos criados. Mas esse desejo incessante e fortíssimo da alma humana só se realiza em algo que é infinito. Por isso nossa felicidade só é plena ao colocar nossa segurança em Deus, como os passarinhos do salmo de Davi que constroem os seus ninhos no Templo do Senhor: “Etenim passer invenit sibi domum, et turtur nidum sibi, ubi ponat pullos suos: altaria tua, Domine virtutum, rex meus et Deus meus” (Sl 84,4).

É para essa felicidade o que Jesus Cristo, Senhor Nosso, convida cada um de nós, ao nos atrair para o ninho de segurança, afeto e bem-querença infinita que é o seu Sagrado Coração: “quotiens volui congregare filios tuos, quemadmodum avis nidum suum sub pinnis” (Mt 13,34).

Latine

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