Milenarismo e Montanismo
Ensaio do Pe. José Arnóbio Glavan, EP
Houve, na primitiva Igreja, uma piedosa concepção sobre a segunda vinda gloriosa de Jesus Cristo, mas falseada pelo exagero, porque se a considerava iminente. Tal idéia, mais tarde, levou alguns a interpretações distorcidas de textos de São Paulo e de São João, especialmente do Apocalipse, fazendo-os imaginar uma próxima volta de Cristo para dar início a um reino terreno de paz, harmonia e delícias, que deveria durar mil anos. É o chamado Milenarismo. Afim com tais ideias, aparecem também doutrinas a respeito de uma era do Espírito Santo, na qual as comunidades cristãs, e mesmo os indivíduos enquanto tais, seriam agraciados por uma manifestação constante do Espírito Santo e governados diretamente pelo Espírito, de maneira que poderiam prescindir da organização e disciplina eclesiásticas e do Magistério da Igreja. Surgia assim a primeira heresia — ou quase heresia pois não se tratava propriamente da afirmação de uma falsa doutrina mas de exageros e fanatismos.
Pelo fim do segundo século, Montano — sacerdote pagão originário da Frígia, e convertido ao cristianismo — pretendia ser o único depositário dos carismas do Espírito Santo — que floresceram no início da pregação apostólica, mas que vinham se tornando cada vez mais raros — especialmente do dom da profecia. Acompanhado por duas mulheres, Maximila e Priscila, tão visionárias e fanáticas quanto ele, que tinham abandonado os maridos para segui-lo, lançou-se à propagação de suas doutrinas. Tal heresia se espalhou muito, sobretudo no Oriente e foi vigorosamente combatida pelos Padres e apologetas. Persistiu ainda em alguns grupos de fanáticos até o século IV, quando foi condenada pelo Papa São Zeferino (199-217). Ressurgiu, entretanto, com roupagens novas, séculos mais tarde em plena Idade Média, com Joaquim de Fiore (1130-1202) e seus seguidores, como veremos oportunamente.