set 192011
 

Fundação da Igreja

Quando alguém empreende, por exemplo, a construção de uma igreja, em sua  mente está um plano cronológico: começa por colocar os alicerces para depois levantar as paredes, sobre as quais serão postas as vigas que sustentarão o telhado, e por fim vem a cobertura. Completando a obra ele poderá construir uma bela torre, nela colocar sinos, e encimá-la com uma cruz. Seguem-se os acabamentos, a colocação do altar, do sacrário, das imagens, dos bancos, etc. Terá, deste modo o edifício concluído.

Se isso é assim na mente do construtor, não o é todavia, na do idealizador. Com efeito, tem este um objetivo primeiro: propiciar ao povo de Deus um contato vivo com a Palavra, com os Santos Mistérios e sobretudo com Jesus Eucarístico, nas celebrações litúrgicas, na sagrada comunhão ou nos momentos de adoração. Em ordem a esse objetivo tudo o mais é concebido numa seqüência logicamente inversa a da construção: em primeiro lugar estão o altar e o sacrário onde Jesus se fará sacramentalmente presente, depois o ambão no qual pelas leituras litúrgicas o Pai que está no céu sai amorosamente ao encontro de seus filhos para conversar com eles (DV,21); em seguida os espaços onde os filhos se reunirão para conviverem entre si, e com o Pai; e por fim o teto as paredes e os alicerces que garantem e tornam acolhedores estes espaços. É neste sentido que fala o velho princípio da Escolástica: primum in intentione, ultimum in executione (o primeiro na intenção é o último na execução)

Deste mesmo modo podemos entender a Igreja nos planos de Deus. Efetivamente, o Criador chamou do nada à existência, os seres minerais, vegetais, animais, as criaturas humanas, e depois de muitos milênios realizou sua obra prima: a encarnação do Verbo, no seio da santíssima Virgem Maria, sua vinda ao mundo, e por Ele, com Ele e nEle, a sua Santa Igreja, Arca da Aliança e Porta do Céu. Não é possível, entretanto, que na intenção divina, a Humanidade Santíssima de seu Filho intimamente unida a Maria e sua Santa Igreja, não tenham estado presente, desde toda a eternidade, como o primeiro ato da criação.

Compreendemos assim a verdade tão cara aos primeiros cristãos e aos Santos Padres: o mundo foi criado em vista da Igreja (1). Assim [diz São Clemente de Alexandria] como a vontade de Deus é um  ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja (2). A Igreja Católica, foi prefigurada desde a origem do mundo(3). Ou seja, dispôs o Senhor Deus que por muitos sinais, ao longo da história da salvação, se manifestasse seus eternos desígnios para com sua Igreja: a Antiga Aliança, a constituição de um povo de Deus, Sião a cidade santa, o Templo de Jerusalém, etc.

Preparada na Antiga Aliança (4), com a vocação de Abraão (5), e a constituição de Israel como povo de Deus (6), contraiu o Senhor a “Nova e Eterna Aliança” em Jesus Cristo (7). Com efeito, aprouve a Deus santificar e salvar os homens, não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que O conhecesse na verdade e santamente O servisse (LG, 9, 1). Constituiu assim a Antiga Aliança estabelecida com o povo hebreu, prefigura e semente na Nova, formada com o povo de Deus do Novo Testamento.

Instituída por Jesus Cristo (8) — que vindo para  realizar os eternos desígnios salvíficos do Pai, consumou sua “missão no Mistério Pascal ” (9) —, a Igreja, Sacramento de Salvação, perpetua no mundo a presença e a ação redentora de seu divino Fundador.

Escolheu os Doze, representando as doze tribos de Israel (10) tendo à frente Pedro como chefe daquele pequeno rebanho (11), e os estabeleceu como pedras vivas da fundação da Nova Jerusalém (12). Mas foi sobretudo do dom total de Cristo para nossa salvação, antecipado na quinta feira santa com a instituição da Eucaristia, e realizado de modo cruento na Cruz, que nasceu a Santa Igreja. Os Santos Padres exprimem, belamente, essa verdade dizendo que a Igreja nasceu do lado de Cristo aberto pela lança. Outrossim aprouve ao Pai que, terminada a obra confiada ao Filho na Terra, fosse a Igreja santificada e manifestada ao mundo com a vinda do Espírito Santo em Pentecostes. Estava esta, pois, pronta para iniciar a missão à qual seu divino Fundador lhe chamara (13).

A escolha dos Doze, o sacrifício na Cruz antecipado na Última Ceia, e a descida do Espírito Santo em Pentecostes são três significativos “atos fundantes” da Igreja. Mas sua consumação, e com ela a do mundo, se dará tão somente na glória celeste, quando da segunda vinda, triunfante, de Cristo Senhor, a parusia. Até lá a Igreja,  Peregrina, vai perpetuando na terra, em paz ou na tribulação, a obra d’Aquele que passou fazendo o bem ( At 10, 38).

Obrigado por seu comentário!