jul 102012
 
As abelhas são símbolos de Cristo que nos dão o doce mel graça e a cera que produz a luz, tal como a fé

As abelhas são símbolos de Cristo que nos dão o doce mel graça e a cera que produz a luz, tal como a fé

“Alguns disseram que nas abelhas há uma parte da mente divina e do espírito etéreo”. O verso é de Virgílio, um grande poeta latino. A frase está presente num clássico poema do autor chamado Georgica. Há nesses versos uma profunda consideração acerca do instinto das abelhas, esses insetos admiráveis pelo senso de orientação, pela tenacidade no trabalho e pela fidelidade à comunidade. Já os antigos pagãos admiravam-se desse animalzinho do qual procede o benefício da doçura, com o mel de seus favos, e da luz, com a cera da qual se produz as velas.

Mais tarde, os cristãos dos primeiros tempos souberam ver os predicados desse animal a fim de ver nele uma figura de Cristo, que trouxe ao mundo a doçura da graça e a luz preciosa da fé. Essa imagem é inclusive usada no Praeconium pascal cantado na vigília do Sábado Santo. Indiretamente, parece estar presente no altar simbolizado pela vela, ou ainda no batismo, quando em certas comunidades cristãs dos primeiros séculos, dava-se ao recém batizado um pouco de mel.

Por outro lado, no poema abaixo, há uma noção acerca da onipresença divina. E de fato, ensina São Tomás de Aquino que Deus está presente sob três formas em sua Criação: primeiro, por potência, influxo ou poder, pois tudo está submetido a seu domínio; segundo, por presença, visão ou conhecimento, pois tudo está patente e como que descoberto a seus olhos; terceiro, por essência ou substância, pois Ele está em tudo, como causa de seu ser. Há ainda outras presenças de Deus, como a inabitação na alma do justo, realizada através da graça. Também a presença pessoal ou hipostática, única e exclusivamente de Cristo, pela qual sua humanidade adorável subsiste na própria pessoa do Verbo Divino. Por isso Ele é pessoalmente Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada. Temos, ademais, a presença sacramental ou eucarística, na qual Jesus Cristo está realmente presente sob as espécies do pão e do vinho. Há, por fim, a presença de visão ou manifestação, que é a do Céu. Deus está presente em toda parte, porém, não Se deixa ver em todo lugar, mas somente no Céu. Só na Visão Beatífica Ele Se manifesta face a face aos bem-aventurados. 

Ladeados por uma despretensiosa e literal tradução para o português, acompanhemos os versos do poeta latino nos quais se percebe, caso compararmos com a doutrina católica, uma insipiente noção a respeito da onipresença de Deus na criação tanto como Criador do Universo assim como inabitando as criaturas, especialmente nas astutas abelhas, talvez até confundindo-se com elas (o que seria um erro chamado panteísmo), mas de fato, conferindo-lhes a beleza da vida e a finalidade da existência.

Vergilius, Georgica IV.219-227

His quidam signis atque haec exempla secutiesse apibus partem divinae mentis et haustus aetherios dixere;deum namque ire per omnis terrasque tractusque maris caelumque profundum;

hinc pecudes, armenta, viros, genus omne ferarum,

quemque sibi tenuis nascentem arcessere vitas:

scilicet huc reddi deinde ac resoluta referri

omnia, nec morti esse locum, sed viva volare

sideris in numerum atque alto succedere caelo.

 

Deste sinal e seguindo este exemplo, alguns disseram que nas abelhas há uma parte da mente divina e do espírito etéreo;e de fato deus penetra em cada coisa, na terra e no movimento do mar e no céu profundo; 

Assim, as manadas, os rebanhos, os homens, cada espécie das feras,

cada um, ao nascer busca uma vida impalpável:

a saber, para ele [deus] cada coisa é restituída e retorna dissolvida,

e pela morte não há espaço, mas tudo aquilo que  é vivo, voa

 no número das estrelas e sucede no alto céu.

 

Autor: Marcos Eduardo Melo dos Santos

ago 292011
 

Há emoções, belezas e realidades na vida que não são inteiramente exprimíveis pela linguagem humana. Dentre estas, uma nos deixa literalmente “sem palavras”: Deus.

Floresta_Boreal_Forest_Wald_automn_hervst_automno_Canada_USA_Bonitas_arvores_trees_Tronco_naturezaSim. Deus é inefável e o homem nem sempre encontra uma linguagem apropriada para definir sua essência e grandeza. A mente humana é extremamente limitada para poder entender toda a dimensão divina. Por mais que se esforce, jamais o homem poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou através do seu mero raciocínio. Como escreveu Santo Agostinho, “estes mistérios são grandes demais e contêm uma espécie de divino segredo, e se nós tentarmos desenvolvê-los como lhes convém, não teríamos nós nem tempo nem força para tal”[1].

Ao longo da sua história, o homem empreendeu uma admirável e rica epopeia para exprimir o ser divino usando todas as possibilidades da inteligência e de sua produção mais pura e sensível que é a palavra.

É precisamente este o tema que o Prof. Dr. Wim Verbaal ministrará para os alunos do Instituto Filosófico Aristotélico Tomista (IFAT) em São Paulo entre os dias 12 a 16 de Setembro de 2011 (carga horária: 20 horas).

O curso tratará sobre o principal objeto dos estudos eclesiásticos filosóficos, ou seja, Deus.  Mais especificamente, o Prof. Verbaal abordará “o desenvolvimento e a mudança da língua latina em sua tentativa de exprimir o inexprimível”.  Através da leitura dos principais textos clássicos, será apresentado o que se tentou pensar, raciocinar e dizer sobre Deus, o Ser inefável.

O Curso seguirá uma sequência cronológica de autores latinos desde Lucrécio e Cícero até São Bernardo de Claraval, bem como outros autores cristãos do século XII dando um especial enfoque aos seus escritos sobre o conceito de Deus.

Dr. Wim Verbaal é membro do Departamento de Estudos literários da Universidade de Gent, Bélgica e especialista em literatura, latim e grego. Publicou várias obras sobre São Bernardo de Claraval e sobre a literatura latina da Idade Média, bem como de autores clássicos.

Prof. dr.Wim.M. Verbaal

Latijnsetaal en literatuur

Latin language and Literature

Universiteit Gent

Dpt.: Letterkunde

Ghent University

Dpt.: Literary Studies

Blandijnberg 2

B – 9000 GENT

tel : xx32 / (0)9 / 264.40.38

fax : xx32 / (0)9 / 264.41.64

e-mail :Wim.Verbaal@UGent.be


[1] Santo Agostinho. Sermão 7.