set 152012
 

Detalhe da Igreja Nossa Senhora do Rosário, Seminário São Tomás de Aquino em São Paulo, Brasil

Quem disse que a música latina se restringe às preciosas relíquias do passado?
Falasar em música na língua latina não significa apenas relembrar saudoso as sóbrias e tocantes melodias do gregoriano.
Um arauto do Evangelho, que preferiu manter-se no anonimato, compôs um bela melodia polifônica para coro e e acompanhamento de orquestra de câmara tendo como letra aslguns versículos inspirados da bela poesia do rei profeta Davi (Cf. Sl 115,1.12-13).

Letra:

Non nobis, Domine, non nobis,
sed nomini tuo da gloriam
super misericordia tua et veritate tua.
Qui timent Dominum, speraverunt in Domino: adiutorium eorum et scutum eorum est.
Dominus memor fuit nostri et benedicet nobis.

A estreia da peça teve por ocasião 73º aniversário do Fundador dos Arautos, Mons. João Clá Dias, EP, e como cadre, a Basílica Nossa Senhora do Rosário, localizada em Caieiras, Grande São Paulo. Foi executada pelo Coro e Orquestra Internacional dos Arautos do Evangelho.
Para ouvir a melodia, acesse o link:
http://thabor.blog.arautos.org/non-nobis-domine/

ago 312012
 

Salve Regina in latine

Haec oratio, quam multi compositores in musica ornaverunt praesertim in cantu gregoriano, putatur Hermannum Contractum primum scripsisse in Reichenan, Germania. Postquam Sanctus Bernardus Claraevallensis addicit in hac deprecatione: O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.

Cum ea finitur rosarium Virginis Mariae et Completorium Liturgiae Horarum.

Maria Virginis

Maria Virginis

Salve Regina in latine Tradução literal
Salve, Regina, Mater misericordiae, Salve Rainha, Mãe de misericórdia,
vita, dulcedo, et spes nostra, salve. vida, doçura e esperança nossa, salve!
Ad te clamamus, exsules filii Hevae, A vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
ad te suspiramus, gementes et flentes A vós suspiramos, gemendo e chorando
in hac lacrimarum valle. neste vale de lágrimas.
Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos Eia pois, advogada nossa, esses vossos olhos
misericordes oculos ad nos converte; misericordiosos a nós volvei;
et Jesum, benedictum fructum ventris tui, e Jesus, bendito fruto de vosso ventre,
nobis post hoc exilium ostende. A nós depois deste desterro mostrai.
O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria. ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria!
V.: Ora pro nobis sancta Dei Genetrix. V.: Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R.: Ut digni efficiamur promissionibus Christi. R.: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
out 242011
 

Homo quidam

Homo quidam fecit cœnam magnam, et misit servum suum hora cœnæ dícere invitátis, ut venírent. Quia paráta sunt ómnia.

Veníte, comédite panem meum, et bíbite vinum quod míscui vobis.

Glória Patri, et Fílio, et Spirítui Sancto.

Carl Bloch (1834–1890)_SermonOnTheMount

Tradução

Certo homem fez um dia um grande banquete, e enviou à hora da ceia o seu servo a dizer aos convidados: Vinde, já está tudo preparado.

Vinde, comei de meu pão e bebei o vinho que para vós preparei.

Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.

Partitura gregoriana

homoquidampartiturapdf

Ouça a música

Homo quidam (Gregoriano)

set 302011
 

Leve ao menos esta lembrança…

Agradecida ao mendigo que salvou a vida de seu filho, a boa mãe lhe deu uma Medalha Milagrosa como lembrança. O andarilho pouco tinha de piedoso, mas ficou comovido com a fé daquela mulher.
Carlos Tonelli

Para ler a versão latina (in latine)

Alegres e despreocupados, Pedro e Maurício, dois meninos de sete anos, voltam da escola pelos caminhos de uma aldeia do interior da Bélgica em fins do século XIX. Passando por uma ponte sobre o rio Meuse que circunda o vilarejo, olham para suas imagens refletidas nas águas e atiram algumas pedras para ver quem conseguia “acertar” o outro. Seguindo adiante, continuam sua brincadeira. De repente, Pedro se aproxima demais do barranco, resvala e cai no rio.

— Socorro! Socorro! — gritava, na margem, Maurício.

— Socorro! — bradava Pedro, que a custo conseguia manter a cabeça fora da água.

naufragoafogadoriosalvavidasnadadorresgaterioriverbombeiro

Entretanto, o povoado estava um pouco distante, seus gritos infantis não chegavam até lá. O socorro lhes veio de onde ninguém esperava: um mendigo que descansava embaixo da ponte atirou-se ao rio sem perda de tempo e logo retornou trazendo o menino são e salvo. Depois de acalmar as duas crianças, decidiu acompanhá-las até a aldeia.

Imagine-se o susto da mãe ao ver chegar seu filho, todo molhado, nos braços de um desconhecido maltrapilho. Posta a par do que havia acontecido, agasalhou com todo carinho o filho e logo se voltou para seu benfeitor:

— Como poderei agradecer-lhe, senhor? Sou pobre também, mas quero mostrar-lhe minha gratidão.

— Não se preocupe, senhora. Dê graças ao bom Deus, como dizia minha mãe, por neste dia eu estar descansando debaixo daquela ponte.

— Por favor, gostaria tanto de dar-lhe alguma coisa!

— Bom, já que insiste tanto, um prato de comida não me faria mal, pois há muito tempo não como algo quente.

Transbordante de gratidão, preparou ela para o mendigo o melhor almoço que pôde. Quando este, depois de larga conversa, estava por sair, ela tirou do pescoço do filho uma corrente prateada com a Medalha Milagrosa e lhe disse:

— Meu senhor, leve ao menos esta lembrança. Certa estou de que foi Nossa Senhora quem dispôs tudo, pois todos os dias peço a Ela que proteja meu filho. Tenha sempre esta medalha no pescoço, eu lhe peço. Este é o maior bem que lhe posso fazer.

O andarilho pouco tinha de piedoso, mas ficou comovido com a fé e o zelo maternal daquela mulher, pois esta lhe trouxe à lembrança a doce fisionomia de outra senhora, que há muitos anos ele não via, e que o carregou nos braços quando criança e também o recomendava diariamente à Mãezinha do Céu… Tomou, pois, a medalha, pôs no pescoço, despediu-se e nunca mais foi visto naquela aldeia.

Pedro cresceu e, sendo já um jovem vigoroso, ouviu o chamado de Jesus para abandonar todos os bens desta terra e decidiu ser missionário. Cerca de 20 anos depois do episódio narrado acima, ei-lo sacerdote, designado pelos superiores para atender os doentes pobres num hospital das Irmãs de Caridade, no interior da França.

Cruzou ele pela primeira vez os amenos jardins daquela casa religiosa e foi apresentar-se à Madre Superiora. Esta o cumprimentou com respeito e lhe disse:

— Padre, como é providencial sua chegada! Estamos com um enfermo em estado terminal e em sério risco de morrer impenitente. Por favor, veja logo o que é possível fazer por ele!

O jovem padre dirigiu-se à capela, rogando a Jesus Eucarístico que lhe inspirasse palavras adequadas para tocar aquele coração endurecido. Voltou os olhos para uma imagem da Virgem e implorou-lhe com toda confiança: “Refúgio dos Pecadores, rogai por ele!”

medalhamilagrosaarautosmiraculousmedailnossasenhoradasgracasbrasilmariamaedejesusCom passo sereno, entrou na enfermaria, onde o doente lhe deu a pior acolhida possível:

— Fora daqui! Não quero nada com padres. Fique do lado de fora, você com seus santos!

Disposto a tudo fazer para salvar aquela alma, Pe. Pedro não se deixou abalar por esse rugido de impiedade. Notando que o ímpio falava com um sotaque pouco comum na região, aproveitou-se do fato para entabular uma conversa.

— Ora veja! Você não é francês, não é verdade? Você parece ser… belga. Acertei?

— Sim, e como sabe?

— Pelo seu sotaque. Há quanto tempo está aqui?

Com isso foi se aproximando da cama do enfermo. Mostrando-lhe um sorriso nos lábios e um rosto radiante de bondade, prosseguiu:

— Sabe, sou belga também, da região do vale do rio Meuse, e brinquei muito às suas margens. E você, de onde é?

O doente mostrava-se aliviado em poder conversar um pouco com um conterrâneo. Procurando ser amável ao máximo, o sacerdote conduziu aos poucos a conversa para assuntos religiosos e, discretamente, tirou a estola da maleta.

Vendo isso, o intratável enfermo descarregou sobre ele um novo surto de imprecações, enquanto procurava erguer-se em seu leito. Ao fazer esse movimento, deixou aparecer sobre seu peito desnudo uma corrente prateada da qual pendia uma Medalha Milagrosa.

O Pe. Pedro reconheceu-a imediatamente! Ocultando a forte emoção que sentia, perguntou:

— Diga-me, quem lhe deu essa medalha?

Como resposta, ouviu do infeliz ateu a história de como ele, cerca de 20 anos antes, a ganhara de presente da mãe de um menino que ele havia salvado das águas do rio.

Sem conter alguns soluços, disse-lhe o sacerdote:

— Sou eu esse menino! Estive sempre à procura daquele mendigo. Por ele rezei todos os dias. Desde que sou padre, lembro-me dele em todas as minhas Missas. E agora o encontro aqui! Veja bem, meu amigo e benfeitor, isto é uma prova de quanto Nossa Senhora lhe quer bem. Assim como Ela, há 20 anos, encaminhou você para aquela ponte a fim de me salvar a vida, agora Ela mesma me traz aqui, como sacerdote de Cristo, para salvar sua alma.

Tocado pela graça, o mendigo derramou muitas lágrimas de arrependimento. Depois de uma sincera confissão de toda a sua longa vida de pecados, recebeu a Unção dos Enfermos, depois o Santo Viático, e expirou serenamente na paz do Senhor.

set 292011
 

Ut recorderis

Tradução portuguesa, in lusitane

Petrus et Mauritius in agro Belga saeculo XIX exeunte habitabant,  hilares et inopinantes, quippe qui septem annorum pueri erant.

Ab schola agrestibus viis olim revertebant cum ad pontem super Mosam, qui pagum eorum natalem circumibat, ambulantes pervenissent, imagines suae in undis sese reddebant;  tunc lapides eicere coeperunt ut alterius imaginem diluerent;  dum ambulare postea pergunt, lapidibus eodem modo ludunt et Petrus qui ad fluminis oram appropinquavit repente in fluenta cecidit.

‘Auxilium! Auxilium!’ Mauritius ab ora fluminis clamabat.

‘Auxilium!’ et clamabat Petrus, cui undae caput paene obruebant.

naufragoafogadoriosalvavidasnadadorresgaterioriverbombeiro

Oppidum adeo procul erat ut pueriles voces non audirentur;  auxilium vero ex eo loco, unde minime exspectabatur, cito pervenit: mendicus errans, qui sub ponte quiescebat, in undas subito se eiecit et in oram cum puero sospite tranavit; postquam ambos sedavit in pagum eosdem comitavit.

Mater valde tremuit cum natum in pannosi erronis manibus madidum videret;  cum vero veritatem audivisset, filium amplexa est et ignoto salvificatori dixit:

‘Qui possim, domine, gratias tibi agere ego quae sum pauper? sed nolim me tui beneficii immemorem videri’.

‘Beneficium, respondit,  domina neglege:  Deo gratias age -ut mea mater dicebat- quod hodie sub ponte forte quiescerem’.

‘At tibi velim aliquod offerre’.

‘Si tibi videtur, inquit, et velles, pulmentum non mihi nocebit, nam calidam escam iamdiu non accepi’.

Tum mulier gratissima pulmentum coxit quam optimum, et  post multam sermocinationem, ex filii collo catellam cum Virginis nomismate sumpsit, mendicoque exituro, dixit:

‘Bone vir, mei hanc ut recorderis imaginem accipe,  neque dubito quin ipsa Virgo tibi, ubicumque eris, auxilium datura sit, nam ipsa quottidie pro meo filio tuendo precor;  te rogo ut hoc nomisma a collo pendens semper geras;  id est maximum bonum quod tibi dare possum’.

Erroni fides ac pietas omnino deerat; sed cum videret mulieris fiduciam et maternam curam, commotus est;  atque alterius mulieris faciem, quam memoria tenebat, sub oculis habere credidit; illa ipsum brachiis puerum olim sustinebat Matrique Caelesti quottidie quoque commendabat;  hanc tamen multos annos iam amiserat; itaque nomisma sumpsit, ad collum alligavit, omnes valedixit;  et in terras longinquas profectus adeo est ut a pueris reliquisque oppidanis nunquam postea videretur.

Petrus creverat et cum iuvenis factus esset, se a Deo sic vocatum sensit, ut, bonis terrenis neglectis,  evangelii praeconius sive missionarius fieret.

medalhamilagrosaarautosmiraculousmedailnossasenhoradasgracasbrasilmariamaedejesusAnnis fere viginti transactis, Petrus sacerdos factus est, cui ab antistite commissum est pauperum aegrotantium animas curare in nosocomio, quod monachae, quae Sorores Charitatis vocantur, in media Francogallia regebant.

Postquam per monachalium aedium hortum transiit, apud praepositam matrem se praebuit; haec reverenter eum salutavit et dixit:

‘Quam oportune, pater, advenisti:  aegrotus quidam mox est moriturus neque ullam paenitentiam agere velit;  cura, quaeso, ut ei auxilium feras’.

Iuvenis sacerdos capellam adiit ut Iesum Eucharisticum rogaret verba opportuna duro aegroti cordi idonea;  deinde oculos ad Virginis imaginem levavit et precatus est: Refugium Peccatorum ora pro eo’.

Tranquillo gradu in valetudinarium ingressus, ab aegrotante acceptus est pessime.

‘Abi sane; procul a me! tu tuique sancti foras!’.

Pater Petrus, ut animam istam sospitem haberet, omnia patienda esse statuit; neque se ab impietate vinci sivit; et cum aegroti loquellam in ea regione inassuetam esse comperisset, ansam sumpsit ad colloquendum.

‘Francogallicus non, amice, videris, potius te forsitan esse Belgam credo, nonne?’.

“Ita est, inquit aegrotus;  quomodo novisti?’.

‘A tua nempe loquella;  quamdiu hic manes?’.

Et paulatim ad aegroti lectum appropinquavit et subridens benigneque agens pergit dicere:

‘Fit ut ego et Belga sum; me puero, in Mosae valle habitabam,  in fluminis oris valde ludebam;  et tu unde venis?’.

Aegrotus leniri videbatur, quod cum concive sermocinaretur;  tum sacerdos comiter agens in res sacras sermonem adduxit, et stolam ex sacculo caute extraxit. Quam cum aegrotus vidisset, aspera duraque iterum verba dicere coepit, dum in lecto assidere intendit;  cum id contendisset,  argentea catella super nudum pectus cum numismate patuit.

Pater Petrus id statim agnovit et commotionem, qua afficiebatur, continens rogavit:

‘Dic mihi quis tibi hoc nomisma dedit’.

Pro responso audivit ab infelici atheo historiam de nomismate viginti annis abhinc accepto de cuiusdam matris manibus, quod filium a Mosae aquis ipse servaverit.

Valde commotus sacerdos dixit:

‘Ego sum ille puer; mendicumque illum continenter diuturno tempore quaesivi ut gratias referrem; pro eo cottidie precatus sum ex eo die quo sacerdos sum factus;  illius memini cum sacram dixi missam,  et nunc te hic invenio;  nonne intellegis quantum amoris tibi Sancta Virgo hodie ostenderit? Ipsa te sub pontem annis viginti abhinc impulit  itaque nunc me Cristi sacerdotem ad te adduxit, ut concivis et salvificatoris animam fierem salvam’.

A Dei gratia tactus, mendicus lacrimas paenitens effudit; postquam singula diuturnae vitae peccata confessus est, Unctionem Infirmorum et Sanctum Viaticum accepit, atque animo quieto diem supremum obiit.

HERALDOS DEL EVANGELIO, Nº22, Mayo de 2005

Scripsit Carolus Tonelli

Latine interpretatus est Paulus Kangiser

ago 292011
 

Há emoções, belezas e realidades na vida que não são inteiramente exprimíveis pela linguagem humana. Dentre estas, uma nos deixa literalmente “sem palavras”: Deus.

Floresta_Boreal_Forest_Wald_automn_hervst_automno_Canada_USA_Bonitas_arvores_trees_Tronco_naturezaSim. Deus é inefável e o homem nem sempre encontra uma linguagem apropriada para definir sua essência e grandeza. A mente humana é extremamente limitada para poder entender toda a dimensão divina. Por mais que se esforce, jamais o homem poderá entender esta grandeza por suas próprias forças ou através do seu mero raciocínio. Como escreveu Santo Agostinho, “estes mistérios são grandes demais e contêm uma espécie de divino segredo, e se nós tentarmos desenvolvê-los como lhes convém, não teríamos nós nem tempo nem força para tal”[1].

Ao longo da sua história, o homem empreendeu uma admirável e rica epopeia para exprimir o ser divino usando todas as possibilidades da inteligência e de sua produção mais pura e sensível que é a palavra.

É precisamente este o tema que o Prof. Dr. Wim Verbaal ministrará para os alunos do Instituto Filosófico Aristotélico Tomista (IFAT) em São Paulo entre os dias 12 a 16 de Setembro de 2011 (carga horária: 20 horas).

O curso tratará sobre o principal objeto dos estudos eclesiásticos filosóficos, ou seja, Deus.  Mais especificamente, o Prof. Verbaal abordará “o desenvolvimento e a mudança da língua latina em sua tentativa de exprimir o inexprimível”.  Através da leitura dos principais textos clássicos, será apresentado o que se tentou pensar, raciocinar e dizer sobre Deus, o Ser inefável.

O Curso seguirá uma sequência cronológica de autores latinos desde Lucrécio e Cícero até São Bernardo de Claraval, bem como outros autores cristãos do século XII dando um especial enfoque aos seus escritos sobre o conceito de Deus.

Dr. Wim Verbaal é membro do Departamento de Estudos literários da Universidade de Gent, Bélgica e especialista em literatura, latim e grego. Publicou várias obras sobre São Bernardo de Claraval e sobre a literatura latina da Idade Média, bem como de autores clássicos.

Prof. dr.Wim.M. Verbaal

Latijnsetaal en literatuur

Latin language and Literature

Universiteit Gent

Dpt.: Letterkunde

Ghent University

Dpt.: Literary Studies

Blandijnberg 2

B – 9000 GENT

tel : xx32 / (0)9 / 264.40.38

fax : xx32 / (0)9 / 264.41.64

e-mail :Wim.Verbaal@UGent.be


[1] Santo Agostinho. Sermão 7.

ago 232011
 

A Igreja deixa o ninho

Pe. José Glavan, EP

Na Palestina como vimos, onde de suas raízes judaicas nasceu o cristianismo, o desenvolvimento das comunidades foi muito dificultado pela oposição e perseguição que a estrutura oficial do judaismo movia contra os cristãos. Mas mesmo assim não deixaram de crescer, e São Tiago Maior foi, provavelmente, o primeiro apóstolo a morrer por Cristo, na perseguição movida por Herodes Agripa (cf. At 12, 1-2), tornado rei por beneplácito do imperador Calígula. Vinte anos depois a violência  desatou-se contra Tiago Menor o “irmão” do senhor, bispo de Jerusalém. Acusado injustamente pelo sumo sacerdote Anás, foi condenado à morte. Atirado do alto da torre do Templo, conservava ainda um resto de vida que lhe foi, em seguida, arrancada pelo apedrejamento e por golpes de massa, o que lhe valeu, por volta do ano 62, a coroa do martírio.

Musei Capitolini_Romano_Cavaleiro_Imperador_Estatua_Equeste_Museus_Capitolinos_Roma

Os imperadores romanos perseguiam os primeiros cristãos

A perseguição aos cristãos de Jerusalém acabou por favorecer a expansão do cristianismo, levando os Apóstolos e seus discípulos a pregar em terras distantes.

Por outro lado, a presença de alguns grupos nacionalistas radicais dentro do Judaísmo, como os zelotas, ou os sicários, sempre prontos a promover sangrentas rebeliões, exasperava continuamente os romanos provocando violentas reações com sucessivas guerras. No ano 70dC, o general Tito, move uma última guerra contra Jerusalém e inicia um cruel cerco de seis meses, ao fim do qual os soldados romanos transpõem as altas muralhas da cidade, tomam-na e passam os sobreviventes a fio de espada. Estima-se  em um milhão e oitocentos mil as vítimas do cerco e da tomada da cidade.

Um historiador israelita, contemporâneo desses acontecimentos, Flávio Josefo, narra cenas atrozes do acontecimento: durante o cerco, a fome assolou Jerusalém de maneira que os habitantes passaram a cozer o couro dos calçados para com eles se alimentarem, depois de consumidos todos os animais disponíveis, mesmo cavalos cães ratos, e até mesmo o que de mais repugnante encontravam. Não faltaram cenas horríveis de canibalismo: os que sucumbiam pela fome tinham suas carnes objeto de uma sinistra disputa pelos sobreviventes. Josefo conta o caso de uma mãe que sacrificou seu filho recém nascido para alimentar-se de suas carnes, fato que horrorizou até mesmo os mais ferozes bandidos (1). Entre os infelizes que buscavam a fuga, alguns engoliam moedas de ouro para lograrem escapar com suas riquezas. Um deles, porém, foi descoberto, a notícia correu célere, e o resultado foi uma horrível matança de fugitivos, que tinham seus ventres abertos pela espada. O historiador israelita diz que numa só noite dois mil fugitivos encontraram este triste fim.

Tito havia dado ordem para poupar o Templo, pois conhecia bem o que ele representava para os judeus, e não queria levar a vindita além de certo limite. Entretanto, no delírio da matança e da embriaguez, um soldado atirou uma tocha acesa no interior do Templo, provocando um imenso incêndio que destruiu aquele majestoso edifício, onde tantas vezes ressoara a voz do Divino Mestre, e de onde, ao sair, Jesus profetizara seu triste fim (2).

Pouco depois, nova incursão dos romanos leva à completa destruição da cidade. Seus habitantes que alcançaram escapar à sanha sanguinária dos romanos, dispersam-se pelo mundo, principalmente em Alexandria, no Egito, em Roma e no norte da África. No ano 130 o imperador Adriano reconstroe a cidade dando-lhe o nome pagão de Aelia Capitolina, e nos lugares santos, erige templos em honra a Júpiter e Afrodite.

Conta ainda, Josefo, um curioso e trágico episódio: quatro anos antes do cerco de Jerusalém, viu-se um camponês, junto às muralhas da cidade, a bradar: “voz sai do Oriente, voz sai do Ocidente, uma voz vem dos quatro ventos: voz contra Jerusalém e contra o Templo; voz contra os recém nascidos e contra os recém casados; voz contra todo o povo” A partir daí, dia e noite percorria a cidade a repetir as mesmas palavras, e redobrava os brados nos dias de festa. Preso, interrogado e açoitado, a cada pergunta ou açoite respondia sem se queixar: “desgraça para Jerusalém!” Considerado louco inofensivo foi posto em liberdade. Continuou assim por sete anos e meio repetindo, com sempre maior insistência, seus misteriosos vaticínios.

Certo dia, por ocasião do último cerco de Jerusalém enquanto repetia seus habituais brados acrescentou: “desgraça para mim também!” Neste instante cai morto atingido por uma pedra arremessada por uma máquina de guerra dos romanos. Curiosamente, este homem levava o mesmo nome de nosso Divino Redentor: chamava-se Jesus. (3)

Cinqüenta anos após a tomada de Jerusalém, aparece um aventureiro judeu ladrão e celerado, Barcochébas, cujo nome significa “filho da estrela”, dizendo-se a estrela de Jacob (cf. Nm 24, 17) e unicamente por seu nome se apresenta como o verdadeiro Messias (4). Encontra logo uma multidão de crédulos que o seguem, desencadeando assim nova sedição. Uma vez mais os romanos intervêm, sufocam a rebelião e Adriano, depois de executar horrível matança, os deporta para sempre da Judéia. Aliás o levante de Barcochébas não foi o único. Numerosos foram os falsos messias que nesse período se apresentaram, entretanto o que mais impressiona é a facilidade com que conseguiam crédulos adeptos.

Premidos por todas essas catástrofes, e submetidos a diáspora (dispersão) os judeus, representados por rabinos fariseus, se reúnem num sínodo, na cidade de Jâmnia (5), por volta do ano 90dC, onde definiram posições relacionadas à versão hebraica das Sagradas Escrituras, e à disciplina judaica. Alguns anos depois, no início do segundo século, esses mesmos rabinos fariseus vinham a fechar seu cânon das Escrituras, resultando, mais tarde, no chamado Texto Massorético, ou a Bíblia hebraica como hoje se conhece. Naquela época, entretanto, a Igreja já se tinha desligado definitivamente das estruturas do judaismo onde tinha nascido, e se desenvolvia em suas próprias bases institucionais e com sua vida própria, movidas ambas pelo Divino Espírito Santo. Deixava assim seu “ninho” para voar livre, nos horizontes da História da Salvação.

Chegamos assim ao fim do primeiro século e início do segundo, com o que se  encerra o chamado período apostólico — que conhecera a Cristo Nosso Senhor e no qual vivera e atuara os apóstolos e as testemunhas oculares da vida e dos ensinamentos de Jesus —  e se abre o período denominado subapostólico. Abre-se também a era dos Padres da Igreja, e apologetas, como veremos mais adiante.

Bibliografia

(1) Flavio Josefo, “História dos Hebreus”, II, Liv. VI, cap. XXXI, 476, Edit. Da Américas São Paulo, 1963. (2) cf. Mt 1-2; (3) Flavio Josefo op. cit. Liv. V, cap. XXXVI, 429. (4) cf. Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, IV, 6,8; (5) Antiga cidade filistéia na costa mediterrânea a 20 km ao sul de Jafa. Nela se instalou uma escola rabínica célebre, depois de 70 dC foi sede do Sinédrio, e centro espiritual do judaismo até 135dC.

ago 152011
 

Provérbios Latinos (Parte I, A-E)

A sabedoria popular soube cunhar breves ditados que exprimem grandes realidades. Todas as línguas e culturas possuem os seus adágios que refletem a riqueza e as peculiaridades do povo, mas o latim em especial, possui provérbios sintéticos e profundos cujo uso atravessa os séculos. Conforme o pedido de alguns leitores de Praecones Latine oferecemos aos leitores uma seleção dos 60 mais famosos provérbios latinos com uma singela explicação de seu uso e significado.

Aquila non capit muscas

Aquila non capit muscas

1. Abusus non tollit usum: O abuso não impede o uso. Princípio segundo o qual se pode usar de uma coisa boa em si, mesmo quando outros usam dela abusivamente.
2. Ad maiorem Dei gloriam: Para maior glória de Deus. Lema da Companhia de Jesus, usado pelos jesuítas pelas iniciais A. M. D. G.
3. Age quod agis: Faze o que fazes. Presta atenção no que fazes; concentra-te no teu trabalho.
4. Alea iacta est: A sorte foi lançada. Palavras atribuídas a César, quando passou o Rio Rubicão, contrariando as ordens do Senado Romano.
5. Amicus certus in re incerta cernitur: O amigo certo se manifesta na ocasião incerta.
6. Aquila non capit muscas: A águia não apanha moscas. Uma pessoa de espírito superior não se preocupa com ninharias.
7. Arcus nimis intensus rumpitur: O arco muito retesado parte-se. O rigor excessivo conduz a resultados desastrosos.
8. Asinus asinum fricat: Um burro coça outro burro. Diz-se de pessoas sem merecimento que se elogiam mutuamente e com exagero.
9. Audaces fortuna iuvat: A fortuna ajuda os audazes. O bom êxito depende de deliberações arriscadas.
10. Carpe diem: Aproveita o dia. (Aviso para que não desperdicemos o tempo). Horácio dirigia este conselho aos epicuristas e gozadores.
11. Consuetudo consuetudine vincitur: Um costume é vencido por outro costume. Princípio de Tomás de Kempis segundo o qual os maus hábitos podem ser eficazmente combatidos por outros que lhes sejam contrários.
12. Consuetudo est altera natura: O hábito é uma segunda natureza. Aforismo de Aristóteles.
13. Credo quia absurdum: Creio por ser absurdo. Expressão de Santo Agostinho para determinar o objeto material da fé constituído pelas verdades reveladas, que a razão humana não compreende.
14. Dare nemo potest quod non habet, neque plus quam habet: Ninguém pode dar o que não possui, nem mais do que possui.
15. De gustibus et coloribus non est disputandum: Não se deve discutir sobre gostos e cores. Cada qual tem suas preferências. (Provérbio medieval).
16. Dominus dedit, Dominus abstulit, sit nomen Domini benedictum: O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor. Palavras de Jó, quando atingido pela perda de todos os seus bens. São citadas para lembrar, nos infortúnios, a resignação cristã.
17. Do ut des: Dir Dou para que tu dês. Norma de contrato oneroso bilateral.
18. Dura lex sed lex: A lei é dura, mas é a lei. Apesar de exigir sacrifícios, a lei deve ser cumprida.
19. Ecce iterum Crispinus: Eis aqui novamente o Crispim. Frase de Juvenal, falando de um importuno.
20. Errare humanum est: Errar é humano. Desculpa que se apresenta a fim de atenuar um erro ou engano.
21. Esto brevis et placebis: Sê breve e agradarás. Conselho escolástico aplicado à eloqüência.
22. Ex ore parvulorum veritas: A verdade (está) na boca das crianças. As crianças não mentem.

Parte II

Parte III

jul 302011
 

Tipicamente brasileiro

Deus multiplicou as nações sobre a face da terra, para melhor espelharem suas qualidades infinitas. Sabendo admirar as qualidades de cada povo, amamos a Deus, seu criador.

José Antonio Dominguez

Um amigo paulista — professor catedrático de História — recebeu certa vez em sua casa um visitante francês. Era a primeira vez que este tomava contato com o Brasil. Como é natural, o anfitrião procurou ser o mais amável e acolhedor possível, de acordo com as leis da hospitalidade, que aqui não são escritas em papel, mas no coração. Não há quem visite o Brasil e não se sinta bem recebido; e, ao deixá-lo, não experimente uma pontinha daquele sentimento exclusivamente luso-brasileiro: as saudades…

Mariana, Minas Gerais

Igrejas em estilo barroco luso-brasileiro em Mariana, Minas Gerais

Meu amigo mostrou, pois, ao visitante sua residência. Pessoa de muita fé, cultura e requintado bom gosto, havia decorado primorosamente a casa. À medida que ia mostrando este ou aquele detalhe, fazia notar sua preferência pela cultura francesa, a fim de que seu visitante se sentisse mais à vontade.

De fato, um dos salões tinha móveis Luís XV, os de outro eram estilo Império, e algumas peças eram de artistas franceses. No final, saltou dos lábios do visitante, nos quais se desenhava um sorriso malicioso, a pergunta aguçada:

— Mas… professor, o senhor não fez um salão em estilo tipicamente brasileiro?

O nosso anfitrião compreendeu bem a perplexidade de seu visitante francês… tipicamente francês! E com um sorriso afável respondeu:

— Exatamente, uma das características do espírito tipicamente brasileiro consiste em admirar e assimilar as qualidades dos outros povos. Por isso, o senhor acaba de ver uma casa tipicamente brasileira.

Casas alemãs em Petrópolis, Rio de Janeiro

Casas tipicamente alemãs em Petrópolis, Rio de Janeiro

É que, para o brasileiro, que acolhe em seu país-continente filhos de quase todas as nações da terra, cada povo é como uma pedrinha colorida de um magnífico caleidoscópio (o conjunto das nações). Sabendo admirar as qualidades de cada povo, amamos a Deus, seu criador.

Por vezes, essas qualidades são antagônicas e seria quase impossível representá-las num só povo. Por isso, Deus multiplicou as nações sobre a face da terra, para melhor espelharem suas qualidades infinitas.

Holmabra_Brasil_Nederlands_in_Brasilien_Dutch_in_Brazilie

Portal em estilo holandês da cidade de Holambra, São Paulo

jul 212011
 

Latim básico: o caso acusativo e as cores em latim

O caso acusativo é o caso do objeto direto.

Para identificar o objeto direto em uma frase deve-se colocar depois do verbo, as interrogativas quem? O que?

Ex: Pedro encontrou teu irmão

Pergunta: Encontrou (quem)?

Resposta: teu irmão (acusativo, objeto direto)

Em português o objeto direto localiza-se na frase após o verbo, mas em latim, como a ordem das palavras não estabelece a função sintática do vocábulo, as palavras sofrem uma alteração em sua desinência.

Museus Capitolinos, Roma

Museus Capitolinos, Roma (Itália)

Palavra em português

Nominativo singular

Acusativo singular

Nominativo plural

Acusativo plural

Marinheiro

Nauta

Nautam

Nautae

Nautas

Filho

Filius

Filium

Filii

Filios

Água

Aqua

Aquam

Aquae

Aquas

Flor

Flos

Florem

Flores

Flores

Mãe

Mater

Matrem

Matri

Matres

Curiosidade: Notou que o acusativo singular sempre termina em “m” e que o acusativo plural sempre termina em “s”. Nossa língua portuguesa é conhecida pelos linguistas como uma língua românica acusativa, pois as palavras lusas derivam em sua maioria do caso acusativo latino.

Singular e plural

Em português acrescentamos geralmente o “s” ao final das palavras para colocá-la no plural. Em latim isto ocorre de modo geral no caso acusativo, mas no caso nominativo, ocorre uma mudança na vogal final da palavra.

Nauta (marinheiro) no plural nominativo torna-se nautae.

Filius (Filho) no plural nominativo torna-se filii.

Veja a tabela abaixo da 1ª e 2ª classe de substantivos nos dois casos já estudados.

Nominativo singular

Nominativo plural

Acusativo singular

Acusativo plural

Lupus (lobo)

Lupi

Lupum

Lupos

Pluma (pluma)

Plumae

Plumam

Lupum

Atendendo o pedido de um de nossos leitores oferecemos lista das cores em latim

As cores em latim

Branco

Albus, a, um

Branco brilhante

Candidus, a, um

Vermelho

Ruber, rubra, rubrum

Vermelho brilhante

Purpureus, a, um

Negro

Niger, nigra, nigrum

Sombra

Ater, atra, atrum

Roxo

Rufus, a, um

Azul

Caerúleus, a, um

Louro

Flavus, a, um

Claro

Clarus, a, um

Brilhante

Fulgens, entis

Transparente

Pellúcidus, a, um

Verde

Viridis, is, e

Marrom-amarelado

Fulvus, a, um

Escuro

Obscurus, a, um

Pálido

Pállidus, a, um  (pallens, entis)

Opaco

Opacus, a, um

Tópicos relacionados