set 072011
 

Luz no horizonte

Ensaio do Pe. José Arnóbio Glavan, EP

Em fins de 303, no auge da perseguição e quando Diocleciano se preparava para comemorar sua vicennalia (20 anos de reinado), o Império é abalado por uma surpreendente e misteriosa notícia: os dois imperadores, Diocleciano e Maximiano acabavam de abdicar, simultâneamente em Nicomédia e Milão, e se retirar para  províncias distantes. Haviam, entretanto, promovido à condição de Augustos, os dois Césares Galério e Constâncio Cloro, este último, simpático ao Cristianismo e pai do futuro imperador Constantino. Também dois novos Césares surgiram: Flávio Severo no Ocidente e Maximino Daia no Oriente, este último inicialmente partidário de uma política de paz com os cristãos. Admiráveis desígnios de Deus começam a se fazer notar nas tramas do acontecer histórico!

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Os acontecimentos políticos levaram, mais uma vez, ao recrudescimento das perseguições, mas já não com unânime opinião entre os meios oficiais. Uma poderosa e crescente corrente de opinião, defendia uma política de paz.

Por nove anos o Império experimentou um período de caos, com sucessivas lutas pelo poder. Caos este que se prolongou, de certo modo, pelo reino de Constantino a dentro. Constantino a quem este emaranhado de acontecimentos acabou por projetar como figura exponencial, vinha abrir uma nova era para a Religião de Jesus Cristo. Galério, então Augusto no Oriente, tomado por pavorosa doença e vendo a morte se aproximar, procurou aliviar sua consciência decretando o fim das perseguições, no ano de 311, medida que contou com a aprovação de Constantino e do César Licínio. Tal fato estava a anunciar  monumental virada nos acontecimentos e na história da Igreja e da humanidade.

Impossível é determinar com exatidão o número de mártires desses dois séculos e meio de perseguições, e as opiniões oscilam entre cem mil a cinco milhões, por onde se vê a insuperável dificuldade de precisar uma cifra, ainda que aproximada. A realidade é que neste tempo, a Igreja Celeste acolheu em seu seio uma gloriosa coorte de santos, que completaram na carne o que falta às tribulações de Cristo (cf. Cl 1,24)

Constantino

Jovem, alto e forte, pelo seu porte e caráter Constantino impunha respeito. Sua mãe, cristã fervorosa e hoje venerada por toda a Igreja como Santa Helena, exercia sobre ele poderosa influência. Após a morte de seu pai, Constâncio Cloro, ascende ele à condição de Augusto, e seu valor militar, provado em sucessivas conquistas, lhe valem a admiração e dedicação das legiões romanas. Despontava assim como poder único e soberano o que, entretanto, não lhe poupou adversários. Maxêncio, Augusto de Roma, também pretendeu para si o poder supremo, e declarou-se único Imperador. Constantino veio lhe dar batalha às portas de Roma.

Imperador Constantino e Santa Helena em Kaysersberg, Alsacia, França

Imperador Constantino e Santa Helena em Kaysersberg, Alsacia, França

Corria o ano de 312 quando, a 27 de outubro, Constantino chegava a cidade dos Césares. No dia seguinte, pela aurora, o exército de Maxêncio, muito mais numeroso do que o de Constantino, vinha ao encontro deste, atravessando o rio Tibre pela Ponte Mílvia. Logo no primeiro embate, as forças de Constantino impuseram surpreendente derrota aos ocidentais que estes, recuando desnorteados, se afogavam no rio Tibre. Após esta batalha, Constantino que era pagão e adorador do Sol Invictus, converte-se e faz-se cristão. O que se teria passado? é esta uma questão que desafia a argúcia dos historiadores. Importantes documentos e monumentos da época, atestam que Constantino “invocou o Deus dos cristãos e lhe ficou devendo a vitória”.

É entretanto através do historiador Eusébio de Cesaréia, que se conhece os pormenores: Constantino, no momento de entrar em luta contra Maxêncio, apelou para o Deus dos cristãos e então viu, em pleno dia , uma cruz luminosa no céu com estas palavras: “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás”). Na noite seguinte apareceu-lhe Cristo convidando-o a fazer uma insígnia com o sinal da Cruz. A partir deste momento, tal insígnia nunca mais deixará de acompanhar os exércitos de Constantino, e ficou conhecida com o nome de Labarum (bandeira) e trazia uma  justaposição das letras gregas X e P, que correspondem as latinas CH e R, iniciais da palavra Christus. Tal símbolo ainda hoje é muito usado em sacrários, vestes litúrgicas e outros objetos sacros.

No ano seguinte era promulgado o famoso Edito de Milão, pelo qual Constantino punha fim, definitivamente, às perseguições, e declarava a liberdade da Igreja em todo o Império. Doou ao Papa sua própria residência, o Palácio Lateranense junto ao qual foi construída a primeira igreja cristã, a Basílica do Santíssimo Salvador ou de São João de Latrão como hoje é conhecida, e que vem a ser a igreja mãe de todas as igrejas de Roma e do mundo (1). Foi porém um sucessor de Constantino, Teodósio I, dito o Grande, que levou às últimas conseqüências os seus atos, declarando no ano  390, o Cristianismo a  religião oficial do Império, e proscrevendo, em toda a extensão de suas terras, o culto pagão. As igrejas e catedrais se substituíram aos templos dos ídolos, e o culto dos falsos deuses cedeu lugar a adoração do verdadeiro Deus. A Igreja se encheu de monumentos, e a fé encontrava poderoso estímulo na realidade humana, quando os mais altos potentados da terra eram vistos, humildemente e de joelhos, a prestar homenagem, devoção e serviço, ao Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Tal situação trouxe, indubitavelmente, muitos benefícios para a Igreja. Não entretanto, sem lhe acarretar graves inconvenientes. Sobre isso trataremos mais adiante.

(1) Nesta basílica se veneram as tábuas da manjedoura em que nasceu o Menino Jesus, e em suas dependências foram realizados cinco concílios ecumênicos

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ago 052011
 

Guy de Ridder

O Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, criado em 1970, tem como principal missão revelar e aprimorar novos talentos no campo musical.

Com esse objetivo, convida todos os anos renomados expoentes da música clássica para, além de fazerem apresentações, atuarem como professores junto às centenas de jovens alunos que dele participam.

A boa nova é que em 2004 a direção do evento decidiu fazer apresentações também para o grande público, ao ar livre e em algumas igrejas.

A este propósito, declarou o diretor artístico do Festival, maestro Roberto Minczuk, regente associado da Orquestra Filarmônica de Nova York: “Montamos uma programação dos concertos ao ar livre, tão boa quanto a do auditório. Se você quer, realmente, divulgar a boa música, tem de levá-la aos espaços públicos. (…) Música clássica fala direto à alma, é tão acessível quanto qualquer outra música, desde que tenha qualidade.”

Igreja Nossa Senhora do Rosário, Seminário São Tomás de Aquino em São Paulo, Brasil

Igreja Nossa Senhora do Rosário, Seminário São Tomás de Aquino em São Paulo, Brasil

Propor a execução de música clássica de boa qualidade nas praças públicas para milhares de ouvintes, eis uma proposta realmente alvissareira, não só para os apreciadores da arte musical, mas também para todos quantos sabem ver em qualquer manifestação de beleza um progresso da alma humana rumo ao Criador de todas as formosuras.

De outra cidade de nosso país-continente, Curitiba, chega a notícia de que acaba de ser aberto o “Espaço Perfume – Arte & História”, um museu inteiramente dedicado à história da perfumaria.

Essa singular instituição cultural apresenta a seus visitantes uma ampla gama de conhecimentos, desde os primeiros registros da utilização de fragrâncias no Egito antigo, até a relação entre o uso de essências e a religião, a música, a literatura e as artes.

Desde tempos imemoriais, nas civilizações antigas já se usavam defumadores e incensos para perfumar os ambientes, notadamente para a realização de rituais, o que ocasionou a palavra perfume, do latim “per fumum”, que quer dizer “por meio de fumaça”.

No Antigo Testamento, o próprio Deus ordena a Moisés tomar aromas e resinas para fazer perfumes com vistas a incensar a Tenda da Reunião, junto à Arca da Aliança.

Narram os Evangelhos que os reis magos demonstraram sua adoração ao Menino Jesus recém-nascido ofertando-Lhe perfumes e essências de suas terras orientais, a mirra e o incenso.

Também Maria Madalena achou que derramar um frasco de preciosíssimo ungüento sobre o Divino Redentor, aos pés do qual estava para implorar perdão, seria forma condigna de Lhe manifestar seu amor e veneração.

Perfumes — ou o belo em essências — obviamente também fazem parte das belezas através das quais a mente humana se eleva à consideração de Deus. Não deixa, pois, de ser um fato auspicioso a inauguração de um museu dedicado a esse campo específico da cultura.

O Conselho Lingüístico Alemão realizou um concurso para decidir qual é a mais bela palavra da língua teuta. O júri, encabeçado pela presidente do Instituto Goethe, Jutta Limbach, teve de fazer a seleção entre perto de 23 mil sugestões, provenientes de 111 países.

A escolha recaiu sobre o vocábulo Habseligkeit, que em português significa “pertences”, mas é carregado de matizes no idioma de Goethe, a julgar pela justificativa da vencedora do concurso. Segundo ela, Habseligkeit indica os haveres de uma pessoa “com um toque amigável e compassivo, tornando o proprietário simpático e amável aos nossos olhos”.

Essa palavra significa a posse de algo, mas com felicidade, uma espécie de bem-aventurança natural de possuir, independentemente de qual seja seu valor ou importância.

A procura do belo da linguagem é uma iniciativa que também só pode ser objeto de elogios. E não deixa de ser altamente promissor o enorme interesse despertado pelo concurso no mundo inteiro.