set 172011
 

Os Padres da Igreja e o combate às heresias

Ensaio da História da Igreja do Pe. José Glavan, EP

PrimeiracomunhaodesaojeroninoBotticellicomunion desJeronimosaintjeronime

Primeira comunhão de São Jerônimo, um dos padres da Igreja do ocidente, por Botticelli

Do período subapostólico (fins do primeiro século até primeira metade do segundo), até o VI século —  época denominada patrística ou dos Santos Padres — a Igreja foi servida por homens insignes em santidade, sabedoria ciência e ardor apostólico que, valorosamente a defenderam contra os ataques dos inimigos da fé, e das ameaças de divisões produzidas pelas heresias — a palavra grega haéresis indica, precisamente, ruptura ou divisão. Diligentemente eles recolheram na memória profunda da Igreja os tesouros do ensino oral de Jesus Cristo, transmitido pelos Apóstolos, e vigorosamente levantaram os fundamentos do maravilhoso edifício da espiritualidade, da exegese e da teologia. São eles, por este motivo, denominados Padres ou Pais da Igreja.

Foram estes também, em geral, grandes apologetas, (defensores da fé) que se distinguiram por sua exímia ortodoxia (reta doutrina) e santidade de vida. Houve também escritores de grande valor, que se destacaram pela brilhante defesa da liberdade da Igreja ou de verdades fundamentais de fé, mas que num ou noutro ponto se desviaram da reta doutrina. Não cabe propriamente a esses a designação de Padres, mas simplesmente a de apologetas. Entre eles estão Orígenes e Tertuliano.

Já no período apostólico, em que os Apóstolos viviam e agiam, falsificadores da verdadeira doutrina (cf. 2Cor 2, 17) se introduziram no meio de rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas as tentativas de se desfigurar a mensagem evangélica aos neo-convertidos provenientes da gentilidade pela imposição de costumes e ritos do judaísmo — que tinham perdido seu sentido e sua vigência —  encontraram a vigorosa reação dos apóstolos reunidos no Concílio de Jerusalém (At 15, 4-35). Posteriormente, outras falsas doutrinas continuaram a ameaçar a jovem Igreja de Cristo, nas épocas que se seguiram.

No período subapostólico — que conheceu as testemunhas diretas daqueles que ouviram a pregação evangélica diretamente dos lábios de Jesus Cristo — e durante o transcorrer do segundo século, com efeito, novas heresias despontaram. Encontraram elas, entretanto, a fé o zelo e o amor a ortodoxia (verdade) daqueles homens valorosos, conhecidos como Padres Apostólicos, que souberam defender, valentemente, a verdadeira fé: apostólicos porque receberam o Evangelho de Cristo diretamente dos Apóstolos, e deles se poderia dizer com Santo Irineu: tinham ainda a voz dos apóstolos nos ouvidos e os seus exemplos diante dos olhos. Foram muitos dentre eles notáveis apologetas, pois se dedicavam especialmente à apologia (defesa) da  ortodoxia. Muitos deles, como São Justino Mártir, Santo Inácio de Antioquia e Santo Apolinário, discípulo este de São João Evangelista e seu sucessor na sede episcopal de Esmirna, selaram com o sangue seu testemunho de fé.

jul 112011
 

Qual a origem do latim da Igreja?

O Latim é uma língua originária do Latium, (Lácio) região da Itália na qual está localizada a cidade de Roma. A história do latim e da Igreja se confluíram por um desígnio divino.

Na época escolhida por Deus para Ele se fazer homem e habitar entre nós, os romanos dominavam todo o mundo dito civilizado, ou seja, toda a bacia do Mediterrâneo.

 Jesus nasceu no tempo em que o Império Romano estava em seu apogeu. Por quê? Para usar dele como de uma plataforma de lançamento da Igreja Católica. Esta unidade linguística facilitou muito a ação dos apóstolos. A própria liturgia numa antiga oração para a comunhão reconhece que Deus preparou o Império Romano para a pregação do Evangelho: “Deus, qui ad praedicandum Evangelium, Romanum imperium praeparisti” (Missal Romano promulgado por Bento XV em 1920).

Rômulo e Remo salvos pela loba.

Rômulo e Remo salvos pela loba.

O latim recebeu grande influência do grego antigo. Pouco antes do nascimento de Nosso Senhor, o grego era a língua que exercia o papel que teve nos séculos passados o francês e, atualmente o inglês como língua universal. O latim muito se enriqueceu com a civilização grega. Prof. Plinio Corrêa de Oliveria afirmava que “a Grécia era a França da época”. Inúmero vocábulos latinos derivam diretamente do grego inclusive o próprio alfabeto.

Mas aos poucos, pela força das armas, o latim se tornou obrigatório em todos os países conquistados pelo Império Romano. A língua latina era um dos fatores de unidade para aquele imenso território que abrangia cerca de 60 milhões de habitantes de etnias muito diversas.

Os jurisconsultos, os senadores, os poetas, enfim, a classe alta falava um latim melhor, erudito: era o “latim clássico”. E o povo — especialmente os soldados — não se  esmerava  tanto em ter uma comunicação mais perfeita: era o “latim vulgar” (vulgus, povo).

Os primeiros séculos da Igreja se passaram; as primeiras heresias surgiram e foram combatidas vigorosamente pelos Padres da Igreja que tinham santidade, sabedoria, conhecimento das Escrituras e começaram, assim, a construir o castelo da teologia católica. Os padres do Oriente costumavam escrever em grego; os do Ocidente, em latim.

No século V, São Jerônimo, a pedido do Papa São Dâmaso, traduziu a Bíblia para o latim, a fim de que ela fosse compreendida por todo o povo (‘vulgus’),  por isso chamamos esta tradução de“Vulgata”, embora empregue uma linguagem ao mesmo tempo elevada e acessível.

Ao ler os textos traduzidos do grego, do hebraico e aramaico por São Jerônimo temos contato com textos latinos tão belos e sonoros como certos clássicos. Exemplos disso são os Evangelhos: “Estote perfecti sicut et Pater vester coelestis perfectus est” (Mateus, 5,48); “Quaerite primum regnum Dei et iustitiam eius et omnia haec adjicientur vobis” (Mateus, 6, 33).

Intrinsecamente pagão, o mundo greco-romano levava em si os germes da sua  própria destruição. A queda do Império Romano se deu no ano 476 (século V), Odoacro, rei dos hérulos depôs a Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente. O fato é considerado por muitos historiadores como o ocaso do pujante Império.

Cresceram as invasões bárbaras que se estenderam até o século IX. Com a entrada de novos e belicosos povos, com idioma próprio, o latim quase desapareceu, exceto nas bibliotecas dos monges que civilizaram os bárbaros. Da mistura  das linguagens, nasceram  na Europa as línguas românicas: português, espanhol, francês, ilatiano, romeno e diversos dialetos europeus.

Aliás, é de origem latina cerca de 50% do vocabulário inglês, língua consolidada no século XIV, sobretudo na época da invasão da França pelos ingleses, expulsos por iniciativa de Santa Joana d’Arc.

Praça de São Pedro em solene celebração

Praça de São Pedro em solene celebração

O Pe. Júlio Comba bem resume a utilidade do estudo do latim na atualidade:

“Em nossos dias o latim não é mais falado em parte alguma, mas é a lingua oficial da Igreja e é estudado em quase todas as nações do mundo, por ser, com razão, considerado elemento precípuo e fator eficiente de cultura, instrumento indispensável para o conhecimento profundo das linguas neolatinas e meio incomparável para a educação da inteligência, disciplina do raciocínio e formação do caráter” (Gramática Latina, Pe. Julio Comba).

 

Tópicos relacionados

Curso Básico de Latim

Introdução ao Latim – História e semelhanças com o português

O alfabeto Latino (Capitais e estados do Brasil em Latim)

Como apresentar-se e conhecer alguém falando em latim?

Nacionalidade e nomes de países em latim

Pronúncia das vogais latinas

Pronúncia latina clássica e eclesiástica das consoantes

Quantidade e acento tônico (partes do corpo e os cinco sentidos em latim)

Diferenças e semelhanças com o português

O que são os casos latinos?

 Caso nominativo