jul 112011
 

Qual a origem do latim da Igreja?

O Latim é uma língua originária do Latium, (Lácio) região da Itália na qual está localizada a cidade de Roma. A história do latim e da Igreja se confluíram por um desígnio divino.

Na época escolhida por Deus para Ele se fazer homem e habitar entre nós, os romanos dominavam todo o mundo dito civilizado, ou seja, toda a bacia do Mediterrâneo.

 Jesus nasceu no tempo em que o Império Romano estava em seu apogeu. Por quê? Para usar dele como de uma plataforma de lançamento da Igreja Católica. Esta unidade linguística facilitou muito a ação dos apóstolos. A própria liturgia numa antiga oração para a comunhão reconhece que Deus preparou o Império Romano para a pregação do Evangelho: “Deus, qui ad praedicandum Evangelium, Romanum imperium praeparisti” (Missal Romano promulgado por Bento XV em 1920).

Rômulo e Remo salvos pela loba.

Rômulo e Remo salvos pela loba.

O latim recebeu grande influência do grego antigo. Pouco antes do nascimento de Nosso Senhor, o grego era a língua que exercia o papel que teve nos séculos passados o francês e, atualmente o inglês como língua universal. O latim muito se enriqueceu com a civilização grega. Prof. Plinio Corrêa de Oliveria afirmava que “a Grécia era a França da época”. Inúmero vocábulos latinos derivam diretamente do grego inclusive o próprio alfabeto.

Mas aos poucos, pela força das armas, o latim se tornou obrigatório em todos os países conquistados pelo Império Romano. A língua latina era um dos fatores de unidade para aquele imenso território que abrangia cerca de 60 milhões de habitantes de etnias muito diversas.

Os jurisconsultos, os senadores, os poetas, enfim, a classe alta falava um latim melhor, erudito: era o “latim clássico”. E o povo — especialmente os soldados — não se  esmerava  tanto em ter uma comunicação mais perfeita: era o “latim vulgar” (vulgus, povo).

Os primeiros séculos da Igreja se passaram; as primeiras heresias surgiram e foram combatidas vigorosamente pelos Padres da Igreja que tinham santidade, sabedoria, conhecimento das Escrituras e começaram, assim, a construir o castelo da teologia católica. Os padres do Oriente costumavam escrever em grego; os do Ocidente, em latim.

No século V, São Jerônimo, a pedido do Papa São Dâmaso, traduziu a Bíblia para o latim, a fim de que ela fosse compreendida por todo o povo (‘vulgus’),  por isso chamamos esta tradução de“Vulgata”, embora empregue uma linguagem ao mesmo tempo elevada e acessível.

Ao ler os textos traduzidos do grego, do hebraico e aramaico por São Jerônimo temos contato com textos latinos tão belos e sonoros como certos clássicos. Exemplos disso são os Evangelhos: “Estote perfecti sicut et Pater vester coelestis perfectus est” (Mateus, 5,48); “Quaerite primum regnum Dei et iustitiam eius et omnia haec adjicientur vobis” (Mateus, 6, 33).

Intrinsecamente pagão, o mundo greco-romano levava em si os germes da sua  própria destruição. A queda do Império Romano se deu no ano 476 (século V), Odoacro, rei dos hérulos depôs a Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente. O fato é considerado por muitos historiadores como o ocaso do pujante Império.

Cresceram as invasões bárbaras que se estenderam até o século IX. Com a entrada de novos e belicosos povos, com idioma próprio, o latim quase desapareceu, exceto nas bibliotecas dos monges que civilizaram os bárbaros. Da mistura  das linguagens, nasceram  na Europa as línguas românicas: português, espanhol, francês, ilatiano, romeno e diversos dialetos europeus.

Aliás, é de origem latina cerca de 50% do vocabulário inglês, língua consolidada no século XIV, sobretudo na época da invasão da França pelos ingleses, expulsos por iniciativa de Santa Joana d’Arc.

Praça de São Pedro em solene celebração

Praça de São Pedro em solene celebração

O Pe. Júlio Comba bem resume a utilidade do estudo do latim na atualidade:

“Em nossos dias o latim não é mais falado em parte alguma, mas é a lingua oficial da Igreja e é estudado em quase todas as nações do mundo, por ser, com razão, considerado elemento precípuo e fator eficiente de cultura, instrumento indispensável para o conhecimento profundo das linguas neolatinas e meio incomparável para a educação da inteligência, disciplina do raciocínio e formação do caráter” (Gramática Latina, Pe. Julio Comba).

 

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jun 072011
 

Introdução ao latim

Durante séculos o latim foi o idioma do mundo. Originário de um povo residente no Lácio, uma província da atual Itália, remonta-se sua origem ao século V ou VI antes de Cristo.

O primeiro escrito em latim data do século III antes de Cristo. Foi achado em uma pedra negra do fórum romano.

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Ruínas do Fórum Romano

Com a conquista do Lácio pelos romanos esta língua de um povo subjugado passou a ser adotada pelos conquistadores. A expansão do Império consequentemente difundiu o latim por quase toda Europa, norte da África e parte do Oriente Médio. O grego permaneceu no oriente e o latim penetrou com mais profundidade no ocidente.

Após a queda do Império dos Césares e as províncias romanas cederem lugar aos reinos germânicos, o latim foi mantido como língua da cultura. Os mosteiros cultivavam o idioma de Cícero não somente nos ofícios litúrgicos, mas também na transmissão das ciências humanas. Durante toda a Idade Média e grande parte da época moderna, o latim foi usado como língua dos professores universitários. Os grandes pensadores escreviam tratados de medicina, física, teologia e direito em latim.

Com o advento da modernidade, especialmente com a consolidação dos movimentos nacionalistas, todos os povos ocidentais passaram a adotar a língua nacional para o magistério e administração estatal. Dir-se-ia que o latim entraria para o inglório ocaso de sua longa História. No entanto, o latim resistiu nas cátedras universitárias e permaneceu como língua oficial da Hungria até o século XIX.

No século XX o latim perdeu muito de seu antigo prestígio, mas ainda é objeto de interesse e possui grande influência em nossa cultura. Hoje, o latim não se restringe a ser apenas a língua oficial do pequeno estado do Vaticano, mas seu alfabeto é usado por mais da metade da população mundial. Não há continente que não possua países que usem uma língua românica – especialmente espanhol, português e francês – como idioma oficial ou cultural. O idioma é considerado por muitos autores como a principal fonte linguística da cultura ocidental.

Em muitos países o latim faz parte da grade curricular básica. Em alguns países europeus tem-se pelo menos dois anos de latim. Na Alemanha cerca de 15% dos estudantes aprendem latim, e, em certas regiões, 50% da população possui bons conhecimentos de gramática.

Também a Internet é um lugar propício para a difusão do latim. Finlandeses, alemães, italianos, norte-americanos, chilenos e poloneses procuram ainda hoje conservar o latim como língua viva. O Praecones latine é uma entre as diversas iniciativas brasileiras na rede mundial em prol da cultura latina.

Latim e as línguas românicas

O conjunto das línguas é considerado pelos filólogos como uma grande família. As semelhanças fonéticas das línguas entre si determinam como que “graus de parentesco”. Quando se analisa o português, o espanhol, o italiano e o francês, nota-se uma semelhança entre certas palavras destes idiomas.

Português

Espanhol

Italiano

Latim

Francês

Porta

Puerta

Porta

Porta

Porte

Na palavra “porta”, por exemplo, existe pouca variação entre estes idiomas. Se compararmos outras palavras destas línguas com o português e com o latim verificaríamos que isto aconteceria em milhares de casos.

Esta semelhança origina-se, como vimos, com as conquistas do Império Romano, mas e as diferenças? Estas por sua vez provêm do fato de que com a expansão do Império Romano, o latim começou a ser influenciado não somente pelo vocabulário dos povos conquistados, mas sobretudo pela fonética destas línguas. Os ditongos, as vogais e as consoantes começaram a não ser mais pronunciados conforme a pronúncia itálica. Assim o latim foi transformando-se paulatinamente nas línguas românicas ou romances, ou seja, os idiomas modernos derivantes do latim. O radical da palavra permanece o mesmo com alterações fonéticas que posteriormente passaram à escrita. Certas vezes esta semelhança se dá inclusive com o inglês e o alemão, os quais receberam grande influência do francês.

Português

Espanhol

Italiano

Latim

Francês

Inglês

Alemão

Espelho

espejo

specchio

speculum

Miroir

Mirror

Spiegel

Água

agua

acqua

aqua

Eau

Water

Wasser

Dente

diente

dente

dens

Dent

Tooth

Zanh

Cabelo

pelo

capelli

capillus

Cheveux

Hair

Haare

Mesa

(tábua)

mesa

tavola

Mensa

Mesa

tabula

Table

Table

Tisch

Pio

pío

Pio

pius

Pieux

Pious

Fromm

Vaso

Vaso

vaso

Vas

Vase

Vase

Vase

Do latim ao português

A princípio, o que existia era simplesmente o latim. Posteriormente o latim foi se estilizando transformando-se num instrumento literário. Passa ele então a apresentar duas formas que tenderam a se polarizar: o latim clássico e o vulgar.

Verifica-se também que muitas vezes certas palavras portuguesas derivaram do latim vulgar na forma acusativa:

Radical na forma acusativa do latim clássico

Latim vulgar

Português

Mulíere

muliére

Mulher

paríete

pariéte

Parede

ascíola

Ascióla

Enxó

lintéolu

linteólu

Lençol

Além disso, muitas vezes o português erudito é idêntico ao latim. Vejamos a comparação entre as formas portuguesas (popular e erudita) e o latim no quadro abaixo:

Português

Radical Latino na forma acusativa

Forma popular

Forma Erudita

Afeição

Afecção

Affectione

Alhear

alienar

Alienare

Alento

Anélito

Anhelitu

Anho

amplo

Amplu

Aveia

avena

Avena

Areia

anera

Arena

Adro

átrio

Atriu

Anjo

ângelo

Angelu

Aprender

apreender

Apprehendere

Auto

ato

Actu

Besta

balista

Balista

Bento

Benedito

Benedictu

Bicha

besta

Bestia

Cabido

capítulo

Capitulu

Caldo

cálido

Calidu

Catar

captar

Captare

Cardeal

cardinal

Cardinale

Chamar

clamar

Clamare

Chave

clave

Clave

Chama

flama

Flamma

Chaga

praga

Plaga

Feira

féria

Feria

Frio

frígido

Frigidu

Lagoa

lacuna

Lacuna

Ladainha

litania

Litania

Leal

legal

Legale

Olho

óculo

Oculu

Puir

polir

Polire

Pai

padre

Patre

Praia

plaga

Plaga

Ruído

rugido

Rugidu

Selo

sigilo

Sigillu

Selva

silva

Silva

Vigia

vigília

Vigilia

No próximo post veremos a continuação da introdução ao latim com uma explicação sobre a pronúncia e o alfabeto latino.Também será oferecido ao leitor um mapa com os estados e capitais do Brasil em língua latina.

abr 102011
 

Movidos pela beleza e precisão da língua latina, alguns estudantes do Instituto Teológico São Tomás de Aquino (ITTA), localizado em São Paulo, realizaram uma iniciativa inédita no Brasil: um site escrito em latim.

Durante séculos o latim foi o idioma do mundo. Originária de um povo residente no Lácio, uma província Italiana, a língua de um povo subjugado passou a ser adotada pelos conquistadores romanos.  O Império Romano, e consequentemente o latim, se difundiu por quase toda a Europa, norte da África e parte do Oriente Médio.

Após a queda do Império dos Césares e as províncias romanas cederem lugar aos reinos germânicos, o latim foi mantido como língua da cultura. Os mosteiros cultivavam o idioma de Cícero não somente nos ofícios litúrgicos, mas também na transmissão das ciências humanas. Durante toda a Idade Média e grande parte da época moderna, o latim foi usado como língua dos professores universitários. Os grandes pensadores escreviam tratados de medicina, física, teologia e direito em latim.

Com o advento da modernidade, especialmente com a consolidação dos movimentos nacionalistas, todos os povos ocidentais passaram a adotar a língua nacional para o magistério e administração estatal. Dir-se-ia que o latim entraria para o inglório ocaso de sua longa História.

No entanto, o latim resistiu nas cátedras universitárias e permaneceu como língua oficial da Hungria até o século XIX. Hoje, o latim não se restringe a ser apenas a língua oficial do pequeno estado do Vaticano, mas seu alfabeto é usado por mais da metade da população mundial. Não há continente que não possua países que usem uma língua românica – especialmente espanhol, português e francês – como idioma oficial. O idioma é considerado por muitos autores como a principal fonte linguística da cultura ocidental.

Também a Internet é um lugar propício para a difusão do latim. Finlandeses, alemães, italianos, norte-americanos, chilenos e poloneses procuram ainda hoje conservar o latim como língua viva.

Unindo-se aos esforços dos amantes da língua de Cícero, Horácio e Virgílio, alguns professores e estudantes residentes no Brasil e membros do Instituto Teológico São Tomás de Aquino (ITTA), procuram difundir na rede mundial artigos, notícias e escritos na língua dos Padres Latinos da Igreja.