No post anterior vimos a pronúncia das vogais. Passamos a considerar as consoantes.
O princípio fundamental da pronúncia latina resume-se em que todas as letras devem ser proferidas. Na pronúncia eclesiástica, somente certas consoantes possuem o som diverso do português.
A letra “c” antes de “e”, “i”, “ae” e “oe” tem som de “tch”, como no “tchê” gaúcho ou na expressão “tchau”. Esta forma de pronunciar é idêntica ao italiano. Em português “ca, ce, ci, co, cu”, pronuncia-se “ca, se, si, co, cu”. Em italiano e latim eclesiástico, ca, tche, tchi, co, cu. Assim, em “celere” pronuncia‐se “tchélere”; “ciconia” pronuncia‐se “tchiconia”; “caelum” pronuncia‐se “tchélum”; e “coena” pronuncia‐se “tchena”.
Na pronúncia clássica ou reconstituída, o “c” se pronuncia como o “k”, como en “casa” inclusive antes de “e” e “i”. Assim se pronuncará “ka, ke, ki, ko, ku”, assim ficaria cetera (kétera), cibo (kibo).
Na letra “g” ocorre fenômeno semelhante. O “g” se pronuncia como em gato, ou como em águia. Na forma eclesiástica antes de “i” e “e” pronuncia-se “dg”, como em italiano “gelato”. Assim, ga, ge, gi, go ,gu, em vez de ser pronunciado no Brasil como “ga, je, ji, go, gu”, ficaria “ga, dje, dji, go, gu”. Na pronúncia clássica deve-se dizer “ga, gue, gui, go, gu”. Assim ficaria genus-generis (guénus-guéneris), pagina (paguina), genitrix (guenitrix).
A letra ”t”’ antes de “i” tem som de ‘”ts”, quando a sílaba não é tônica. Em “gratia” (graça), pronuncia-se “grátsia”; “locutio” pronuncia-se “locutsio”; “fortiori”, frotsióri”.
Em textos modernos que constam a letra ”j” tem-se sempre de pronunciar o som de ”i”. Por exemplo, “jus”, “Jesus” e “jacta”, pronuncia-se “iús”, “iésus” e “iacta”. Aliás, como vimos no post sobre o alfabeto latino, o “j” não existe no latim clássico e não é usado nos textos litúrgicos e oficiais da Igreja Católica.
O grupo consonantal ”ch” tem som de ”k”. Por exemplo, “machina” pronuncia‐se ”mákina”; ”charitas” pronuncia‐se ”káritas”; ”chorda” pronuncia‐se ”kórda”.
O grupo consonantal ”gn” tem som de ”nh”, por exemplo, em ”ignis” pronuncia‐se ”ínhis”; ”cognosco” pronuncia‐se ” conhósco”; ”regnum” pronuncia‐se ”rénhum”.
O grupo consonantal ”ph” tem som de ”f”, igualmente ao português arcaico.
O “qu” se pronuncia “kú”. Por exemplo: “que” se pronuncia “kúe”.
Na pronúncia clássica e eclesiástica o “v” se pronuncia “u”. Por exemplo: veni se pronuncia “uéni”. Mas também se admitem as pronuncias “b” (bilabial fricativa explosiva) e “v” (labiodental, fricativa, sonora); isto dependerá da origem do falante. Um espanhol sempre pronunciará “beni”, um brasileiro ou italiano pronunciará “véni”.
O “ll” se pronuncia como a l geminada do italiano en Rafaella, ou seja, alonga-se a vogal anterior ao duplo “l”. Por exemplo: bellum, belli se pronuncia “bél-lum bél-li”.
O “h” no início das palavras é levemente aspirado (como em inglês e alemão). Em habere (verbo haver) pronuncia-se “rabere”. No latim ecleisástico o “h” não é pronunciado: “abere”.
O “m” e o “n” devem ser pronunciados inclusive no final das palavras, porém de forma “muda”. Aliás todas as consoantes latinas localizadas nos finais da palavras devem ser proferidas sem o acréscimo de vogal final. No Brasil costuma-se inserir uma vogal nas palavras ou siglas terminadas em consoantes, por exemplo, MASP, diz-se “maspi”, mas a pronúncia latina e de outras línguas estrangeiras não admitem este erro típico do brasileiro. Seria como dizer “good night”, “gudi naiti”. O correto é dizer “gud nait”, pronunciando levemente a consoante final.
Na pronúncia clássica o “th” é aspirado como no grego. Os eclesiásticos o pronuncia como simples “t”.
O “x” é pronunciado como “ks”, por exemplo, exire (eksire).
O grupo “sc” é pronunciado na forma eclesiástica como “ch”, por exemplo, descendere, (dechendere).
A pronúncia das demais consoantes são idênticas à brasileira do português.