jun 192011
 

A quantidade das sílabas

Visto nos últimos posts a pronúncia eclesiástica e a clássica reconstituída das vogais e das consoantes latinas, dedicaremos o presente artigo à consideração da quantidade das sílabas latinas. Quantidade significa a duração de pronunciação de uma sílaba. Em princípio, uma sílaba longa dura duas vezes mais que uma sílaba breve.

Por dois motivos uma sílaba pode ser longa:

1. Porque a vogal que ela contém é longa por natureza: vidi, dubitare,

2. Porque a vogal é seguida de duas consoantes: captus.

Note-se que:

1. os ditongos ae, au, oe formam uma sílaba só, que é sempre longa:  moe-ni-a;

2. uma vogal seguida de outra vogal é geralmente breve: moeni-a.

O acento tônico do latim

O latim clássico não possuía acentos tônicos. Na época as vogais que mereciam ser destacadas eram apenas pronunciadas por maior tempo. Isto acontecia também no grego. Interessante lembrar que o latim era quase cantado soando na poesia e inclusive na prosa de forma agradável e compassada. Como esta forma não era comum na antiguidade, os gregos e romanos qualificavam os povos circunvizinhos de “bárbaros”, pois a língua deles soava com um “bê-bê-rê-bê”…

Somente em épocas posteriores passou-se a acentuar o latim com brachias (ă) e macrons (ā), ou ainda com acentos (´) como nas línguas românicas. Esta segunda forma é mais comumente usada nos textos litúrgicos da Igreja Católica.

O acento tônico nada mais é que a importância particular dada, na pronúncia, a uma das sílabas de uma palavra. Suas regras são:

1. Nas palavras de duas sílabas, é sempre a primeira que leva o acento: rósa;

2. Nas palavras de mais de duas sílabas o acento recai:

a) sobre a penúltima, se ela é longa: dubitare; inceptus;

b) sobre a antepenúltima, se a penúltima é breve: dubitat.

3. O latim não possui palavras oxítonas como ca, ma e pico.

4. Quando há uma enclítica (-ne, -que, -ve) se une a uma outra palavra, esta leva o acento sobre a última sílaba: operane, incolaque, audireve. Veremos mais adiante o significado destas partículas.

Corpus Christi, salva me. Sanguis Christi, inebria me. Aqua lateris Christi, lava me.	Amen.

Corpus Christi, salva me. Sanguis Christi, inebria me. Aqua lateris Christi, lava me. Amen.

Como dizer as partes do corpo em latim?

Como em nosso próximo post será dado início à consideração da gramática latina, mais especialmente no caso nominativo, oferecemos ao leitor algumas palavras latinas selecionadas segundo o sentido: partes do corpo humano e os cinco sentidos em latim. Como veremos mais detalhadamente, os dicionários latinos apresentam os substantivos com no caso nominativo e após a vírgula a forma no caso genitivo. Veremos também nos próximos posts o que significam os “casos” latinos.

Partes do corpo e cinco sentidos

Em português (Lusitane) Em latim (latine)
Corpo Corpus,-poris
Membros Membra, orum
Articulação Artus, uum
Osso Os, ossis
Carne Caro, carnis
Sangue Sanguis, guinis
Nervo Nervus,i
Víceras Viscera,um
Coração Cor, cordis
Sentido Sensus, uum
Visão Visus,us
Olhos Óculus,i
Audição Audítus, us
Orelha Auris,is
Nariz Nasus,i
Paladar Gustus,us
Boca Os, oris
Língua Lingua,ae
Tato Tactus,us
Cabeça Caput, pitis
Cabelo Capillus, i
Rosto Vultus,us
Face Fácies,iei
Fronte Frons, frontis
Têmpora Témpora, um
Joelhos Genus,us
Barba Barba,ae
Dente Dens, dentis
Garganta Guttur, uris
Pescoço Collum, i (iugulum,i)
Cervis Cervis,icis
Tronco Truncus,i
Ombro Humerus,i (umerus,i)
Peito Pectus, pectoris
Costas Tergum, i (dorsum,i)
Flanco Latus, lateris
Ventre Venter, ventris
Braço Bracchium, ii
Mão Mannus,us
Direita Dextera,ae (dextra,ae)
Esquerda Sinistra, ar
Dedo Dígitus, i
Perna Crus, cruris
Pés Pes, pedis
Calcanhar Calx, Cálcis
jun 172011
 

No post anterior vimos a pronúncia das vogais. Passamos a considerar as consoantes.

O princípio fundamental da pronúncia latina  resume-se em que todas as letras devem ser proferidas. Na pronúncia eclesiástica, somente certas consoantes possuem o som diverso do português.

A letra “c”
antes de “e”, “i”,
 “ae” e “oe” 
tem 
som de “tch”, 
como no “tchê” gaúcho ou na expressão “tchau”. Esta forma de pronunciar é idêntica ao italiano. Em português “ca, ce, ci, co, cu”, pronuncia-se “ca, se, si, co, cu”. Em italiano e latim eclesiástico, ca, tche, tchi, co, cu. Assim, em “celere” 
pronuncia‐se
 “tchélere”;
 “ciconia” pronuncia‐se “tchiconia”;
 “caelum” pronuncia‐se
 “tchélum”; e “coena” pronuncia‐se “tchena”.

Na pronúncia clássica ou reconstituída, o “c” se pronuncia como o “k”, como en “casa” inclusive antes de “e” e “i”. Assim se pronuncará “ka, ke, ki, ko, ku”, assim ficaria cetera (kétera), cibo (kibo).

Na letra “g” ocorre fenômeno semelhante. O “g” se pronuncia como em gato, ou como em águia. Na forma eclesiástica antes de “i” e “e” pronuncia-se “dg”, como em italiano “gelato”. Assim, ga, ge, gi, go ,gu, em vez de ser pronunciado no Brasil como “ga, je, ji, go, gu”, ficaria “ga, dje, dji, go, gu”. Na pronúncia clássica deve-se dizer “ga, gue, gui, go, gu”. Assim ficaria genus-generis (guénus-guéneris), pagina (paguina), genitrix (guenitrix).

A
 letra 
”t”’
antes 
de “i”
 tem som 
de ‘”ts”,
quando 
a 
sílaba 
não 
é 
tônica. Em “gratia” (graça), pronuncia-se “grátsia”; “locutio” pronuncia-se “locutsio”; “fortiori”, frotsióri”.

Em textos modernos que constam a
letra 
”j” 
tem-se 
sempre
 de pronunciar o som 
de 
”i”. Por exemplo, “jus”, “Jesus” e “jacta”, pronuncia-se “iús”, “iésus” e “iacta”. Aliás, como vimos no post sobre o alfabeto latino, o “j” não existe no latim clássico e não é usado nos textos litúrgicos e oficiais da Igreja Católica.

O
 grupo
 consonantal 
”ch” 
tem 
som 
de 
”k”. Por exemplo, “machina” 
pronuncia‐se
 ”mákina”; 
”charitas” 
pronuncia‐se
 ”káritas”; 
”chorda” 
pronuncia‐se
 ”kórda”.

O 
grupo
 consonantal 
”gn” 
tem 
som 
de 
”nh”, por exemplo, em ”ignis” 
pronuncia‐se
 ”ínhis”;
 ”cognosco” 
pronuncia‐se
” conhósco”;
 ”regnum” 
pronuncia‐se
 ”rénhum”.

O
 grupo 
consonantal 
”ph” 
tem 
som
 de 
”f”, 
igualmente 
ao 
português 
arcaico.

O “qu” se pronuncia “kú”. Por exemplo: “que” se pronuncia “kúe”.

Na pronúncia clássica e eclesiástica o “v” se pronuncia “u”. Por exemplo: veni se pronuncia “uéni”. Mas também se admitem as pronuncias “b” (bilabial fricativa explosiva) e “v” (labiodental, fricativa, sonora); isto dependerá da origem do falante. Um espanhol sempre pronunciará “beni”, um brasileiro ou italiano pronunciará “véni”.

O “ll” se pronuncia como a l geminada do italiano en Rafaella, ou seja, alonga-se a vogal anterior ao duplo “l”. Por exemplo: bellum, belli se pronuncia “bél-lum bél-li”.

O “h” no início das palavras é levemente aspirado (como em inglês e alemão). Em habere (verbo haver) pronuncia-se “rabere”. No latim ecleisástico o “h” não é pronunciado: “abere”.

O “m” e o “n” devem ser pronunciados inclusive no final das palavras, porém de forma “muda”. Aliás todas as consoantes latinas localizadas nos finais da palavras devem ser proferidas sem o acréscimo de vogal final. No Brasil costuma-se inserir uma vogal nas palavras ou siglas terminadas em consoantes, por exemplo, MASP, diz-se “maspi”, mas a pronúncia latina e de outras línguas estrangeiras não admitem este erro típico do brasileiro. Seria como dizer “good night”, “gudi naiti”. O correto é dizer “gud nait”, pronunciando levemente a consoante final.

Na pronúncia clássica o “th” é aspirado como no grego. Os eclesiásticos o pronuncia como simples “t”.

O “x” é pronunciado como “ks”, por exemplo, exire (eksire).

O grupo “sc” é pronunciado na forma eclesiástica como “ch”, por exemplo, descendere, (dechendere).

A pronúncia das demais consoantes são idênticas à brasileira do português.

Cícero um dos mais ilustres autores classicos

Busto de Cícero