jul 072011
 

História de São Bento de Núrsia – O varão do qual nasceu uma civilização

Deus o chamou para ser o “grande patriarca do monaquismo ocidental”. A ordem por ele fundada fez nascer das ruínas do Império Romano a cultura e a civilização européias.

Pe. Pedro Morazzani Arráiz, EP

O orgulhoso e outrora invicto Império Romano dissolvia-se devastado pelas hordas avassaladoras dos invasores bárbaros. Tudo cedia diante deles: exércitos, muralhas, instituições e costumes eram varridos pela maré montante dos novos dominadores.

“O navio afunda!” — exclamava São Jerônimo, que escreveu com tristeza ao receber a notícia da queda de Roma: “A minha voz se extingue; os soluços embargam-me as palavras. Está tomada a ilustre Capital do Império!”

A civilização parecia se desfazer num dramático ocaso sem esperança.

Entretanto, uma estrela luzia nessa escuridão desconcertante, indicando o verdadeiro rumo dos acontecimentos: na cidade de Hipona cercada pelos vândalos, Santo Agostinho escrevia “A Cidade de Deus”, proclamando que o mundo nascido do paganismo soçobrava irremediavelmente, e a Cidade de Deus — a Santa Igreja Católica — não apenas jamais seria destruída, mas sempre triunfaria sobre qualquer adversidade.

Que meios, porém, e que homens utilizaria Deus para desse caos fazer emergir a ordem e o esplendor?

Vocação do varão providencial

Nos tempos evangélicos, o Divino Mestre chamara obscuros pescadores para serem as colunas de sua Igreja. Agora o Espírito Santo escolhia um jovem para renovar essa sociedade convulsionada e instaurar uma nova civilização.

No entanto — oh, paradoxo! — esse rapaz, cujo nome era Bento, nascido de nobre família da Núrsia, em 480, sentiu em si o apelo do Senhor para O seguir no silêncio e na solidão.

Seus pais o enviaram a Roma para estudar. Mas logo percebeu ele que, para corresponder ao sobrenatural desejo que ardia em seu coração, não podia permanecer naquele mare magnum, misto de barbárie e cultura romana decadente.

Assim, na flor da juventude e sem nunca ter manchado sua inocência batismal, abandonou casa, haveres e estudos, e partiu à procura dum lugar ermo onde pudesse adquirir o conhecimento e o amor de Deus.

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“Desejava mais os desprezos que os louvores do mundo”

A cidade de Enfide (atual Affile), a cerca de 50 quilômetros de Roma, foi o local escolhido para o seu recolhimento. Ali se instalou com sua antiga governanta, que lhe prestava os serviços domésticos.

Um pequeno incidente caseiro foi ocasião para o seu primeiro milagre. Encontrou certo dia a governanta chorando porque, por descuido, deixara quebrar um crivo de argila que havia pedido emprestado a uma vizinha para limpar trigo. Compadecendo-se dela, Bento tomou os pedaços do crivo, pôs-se em oração e ele se reconstituiu de forma tão perfeita que nem se notava sinal algum de fratura.

Logo se espalhou a notícia desse milagre, trazendo-lhe muita fama. Ele que, segundo relata o Papa São Gregório Magno, “desejava mais os desprezos que os louvores deste mundo”, fugiu da casa de Enfide, indo procurar refúgio num lugar solitário chamado Subiaco, onde se alojou numa minúscula gruta.

Uma grande tentação, uma vitória definitiva

A caminho de Subiaco, ele encontrou-se com Romano, monge que vivia num mosteiro próximo dali. Em determinados dias, Romano fazia descer por uma corda um pedaço de pão até a gruta de Bento. Durante certo tempo, foi esta a única fonte de alimentação do jovem ermitão. Em breve, porém, tornou-se ele conhecido na região, e muitas pessoas, vindo procurar nutrimento para suas almas, traziam-lhe alimento para seu corpo.

Nesse período, sofreu o jovem as mais duras tentações diabólicas. Fortemente provado em certa ocasião contra a virtude da pureza, viu-se a ponto de ceder e até mesmo abandonar sua solidão. Ajudado, porém, pela graça divina, reagindo, despojou-se de sua vestimenta e se atirou numa moita de espinhos e urtigas, na qual se revolveu durante longo tempo. Saiu com o corpo todo ferido, mas com a alma livre da tentação.

Tentativa de envenenamento

Nos três anos em que passou nesse lugar em completo isolamento, espalhou-se a fama de sua santidade. Tendo falecido o abade de um mosteiro existente por perto, os monges vieram pedir-lhe para assumir esse cargo. De início, Bento recusou, porém, ante a grande insistência dos religiosos, acabou por aceitar. Em pouco tempo, contudo, esses tíbios monges — arrependidos de terem escolhido por superior um homem que lhes exigia o caminho da perfeição — decidiram matá-lo, pondo veneno no seu vinho. O Santo traçou um grande sinal-da-cruz sobre a jarra de cristal que lhe foi apresentada e esta se despedaçou.

Compreendendo bem o que isso significava, Bento abandonou no mesmo dia o mosteiro de monges relaxados e regressou à estimada solidão de sua gruta.

Nasce a Ordem Beneditina

Atraídos pelo brilho de suas virtudes e a fama de seus milagres, muitos varões sedentos de sobrenatural foram para junto da gruta para viverem sob sua direção. Formaram-se, assim, sucessivas comunidades. Ao todo, São Bento erigiu ali doze mosteiros, escolhendo um abade para cada casa.

Estava fundada a Ordem Beneditina.

Nessa época, Subiaco começou a ser visitada por pessoas importantes de Roma que traziam os filhos para serem educados segundo o espírito beneditino. Dentre estes, o Santo abade recrutou dois de seus melhores discípulos: São Mauro e São Plácido.

Grande taumaturgo

Deus concedeu com largueza a seu servo o dom dos milagres.

O abastecimento de água de três dos mosteiros construídos sobre alta montanha acarretava grandes trabalhos aos monges. Estes foram pedir-lhe para se mudarem. Nessa noite, Bento rezou nesse local durante bom tempo e, antes de descer, marcou um ponto com três pedras. No dia seguinte disse àqueles monges:

— Ide e cavai no rochedo onde encontrardes três pedras superpostas.

Feito isso, de lá brotou água que jorra em abundância até hoje.

Bento havia aceitado como monge um homem godo “pobre de espírito”. Certo dia, deu-lhe por missão desbastar o mato à beira do lago para ali plantar uma horta. O homem cortava com vigor o matagal quando a foice desprendeu-se do cabo e caiu no lago, num lugar profundo. Aflito, foi ele confessar a São Mauro sua “falta”. Bento, posto a par do sucedido, foi ao local e enfiou na água a ponta do cabo. Nesse momento a foice subiu do fundo do lago e prendeu-se de novo no cabo.

— Toma, trabalha e não te aflijas mais — disse o santo Abade ao monge.

Muitos outros milagres operou Deus por intermédio de seu fiel servidor. Ele curou doentes, salvou pessoas de perigos, expulsou demônios, fez um monge andar sobre as águas, e até ressuscitou um menino morto.

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“Eu estava presente…”

Outro dom singular que aprouve ao Senhor conceder-lhe é o de estar presente em espírito junto a seus filhos espirituais, onde fosse necessária sua vigilância de Pai e Fundador. Dois episódios ilustram bem esse prodigioso privilégio.

Prescrevia a regra que os monges nada comessem nem bebessem quando saíssem do mosteiro para cumprir alguma incumbência. Um dia dois monges, tendo ficado fora até muito tarde, aceitaram hospitalidade de uma piedosa mulher que lhes serviu alimento e bebida. Voltando ao mosteiro, foram pedir a bênção a São Bento, que os interpelou:

— Onde comestes?

— Em nenhum lugar — responderam eles.

— Por que mentis? Acaso não entrastes na casa de tal mulher e ali comestes tal e tal coisa, e bebestes tantas vezes?

Os dois culpados prostraram-se a seus pés e lhe pediram perdão.

Havia perto de Subiaco uma comunidade de virtuosas mulheres consagradas ao serviço do Senhor, às quais o Santo enviava com freqüência um monge para lhes dar assistência espiritual. Certo dia, o monge encarregado dessa missão aceitou de presente delas alguns lenços e os escondeu sob o hábito, em seu peito. Regressando ao convento, foi severamente repreendido por São Bento e ficou estupefato pois, tendo já se esquecido da falta cometida, não atinava com o motivo da repreensão. Então o santo Abade lhe disse: “Acaso não estava eu presente quando recebeste das servas de Deus os lenços e os guardaste em teu peito?”

Alvo de perseguições

Em todos os tempos e lugares, é próprio dos Santos serem alvo da incompreensão e do ódio dos asseclas do demônio. O sacerdote de uma igreja próxima de Subiaco, tomado de inveja, começou a denegrir o gênero de vida de Bento, procurando afastar de sua santa influência todos que podia. Vendo frustrados seus esforços, enviou de presente a Bento um pão envenenado, com o fito de matá-lo. Fracassado também este intento, chegou ao cúmulo de introduzir no jardim do mosteiro sete mulheres de má vida, com esperança de corromper os jovens monges.

Compreendendo que tudo isso era feito com intuito de persegui-lo pessoalmente, Bento nomeou prepostos seus em cada um dos doze mosteiros que havia fundado, e retirou-se de Subiaco.

Monte Cassino, o caminho para a restauração

Dirigiu-se então a Cassino, uma cidadezinha fortificada a meio caminho entre Roma e Nápoles. Havia lá um templo pagão no qual camponeses da região rendiam culto a Apolo. Ao redor do templo, mantinham eles cuidadosamente alguns bosques nos quais ofereciam sacrifícios ao demônio. Ali chegando, o homem de Deus destruiu o ídolo, abateu os bosques e transformou o edifício em igreja erguendo nela um oratório a São João Batista e outro a São Martinho de Tours.

Em seguida, deu início à construção do famoso mosteiro de Monte Cassino, o qual teve por único arquiteto o santo Abade e como construtores os próprios monges.

O mosteiro de Monte Cassino foi a resposta de Deus à decadência do mundo de sua época. Exemplo de governo patriarcal e de sociedade verdadeiramente cristã, em meio às nações bárbaras, exerceu enorme influência sobre os costumes privados e públicos, tanto na ordem espiritual quanto na temporal. Bispos, abades, príncipes e homens de todas as classes visitavam o Santo, seja para lhe pedir um conselho, seja pela amizade e estima que tinham por ele. Potentados da época, às vezes depois de conquistas e vitórias, iam com freqüência refugiar-se secretamente em Monte Cassino para se embeberem um pouco do espírito beneditino.

Descobriu-se, assim, após o desmoronamento do Império Romano, o caminho para a renovação.

A Regra dos Monges

Enquanto erguia o edifício do novo mosteiro, São Bento erigia interiormente a Obra beneditina sobre uma base mais firme que a rocha, escrevendo sua inspirada e famosíssima Regra dos Monges. Tem ela por objetivo desprender o coração humano das trivialidades, facilitando à alma elevar-se a Deus sem obstáculos, com um proceder sempre sereno, tendo em vista a vida eterna. Com seu conhecido aforismo “Ora et labora” (Reza e trabalha), a Regra tem o mérito de harmonizar no monge a oração e a ação, a ascese e a mística.

A Regra escrita por São Bento produziu benéficos frutos em toda a Cristandade. Este sábio conjunto de normas vigorou quase com exclusividade nos mosteiros de Ocidente durante oito séculos.

A santidade e o espírito valem mais que a Regra

Entretanto, mais que a Regra, foram a santidade e o espírito de seu Fundador que deram à Ordem Beneditina a estabilidade, a força de expansão e a eficácia da sua ação civilizadora. Inspirados pela busca da perfeição na obediência, no esplendor da liturgia, no primor do canto gregoriano e no amor à beleza posta a serviço de Deus, os filhos de São Bento exerceram um papel fundamental na cultura, nos costumes e nas instituições das nações que formaram a Cristandade medieval.

A Ordem de São Bento teve um extraordinário surto de desenvolvimento a partir do século X, com a fundação da Abadia de Cluny. No seu apogeu, 17 mil mosteiros estavam subordinados a ela. Nações inteiras foram convertidas à Fé cristã pelos discípulos do santo Patriarca. Muitas famosas universidades — Paris, Cambridge, Bolonha, Oviedo, Salamanca, Salzburgo — nasceram como desdobramentos de colégios beneditinos. Inúmeros mártires deram valorosamente a vida pronunciando o nome de seu Fundador. Plêiades de cardeais, bispos e santos doutores tinham-no por mestre. Mais de 30 papas seguiram sua inspirada Regra. Finalmente, há 1500 anos, incontáveis almas se consagram a Deus sob a égide de sua santa Instituição.

Pode-se, pois, com toda propriedade, comparar ao grão de mostarda da parábola do Divino Mestre a Obra do Pai do Monaquismo Ocidental: “É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos” (Mt 13,32).

Morreu de pé, como valente guerreiro

O santo Abade anunciou com meses de antecedência a data de sua morte. Seis dias antes, mandou preparar a sepultura. Logo foi atacado por violenta febre. Como a enfermidade se agravava cada vez mais, no dia anunciado fez-se conduzir ao oratório onde, fortalecido pela recepção da Santíssima Eucaristia e apoiado nos braços de seus discípulos, morreu de pé com as mãos levantadas aos Céus e os lábios pronunciando a última oração.

Era o dia 21 de março de 547. Foi enterrado no local onde havia outrora edificado o oratório de São João Batista, em Monte Cassino.

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A última visita de Santa Escolástica

Escolástica, fundadora do ramo feminino da Ordem Beneditina, era irmã gêmea de São Bento e estava desde a infância consagrada a Deus. Todo ano ela lhe fazia uma visita para conversarem sobre os assuntos relativos à vida eterna. O santo Abade a recebia numa casa pertencente ao Mosteiro de Monte Cassino, situada não longe dali.

No ano da partida da Santa para o Céu (547), veio ela como de costume, e seu santo irmão foi encontrá-la na mencionada casa, acompanhado de alguns de seus discípulos. Passaram todo o dia em elevados colóquios, os quais se prolongaram até uma hora avançada da noite. Pressentindo que estava próximo o dia de sua morte, Escolástica disse a seu irmão:

— Suplico-te que não vás agora, para podermos conversar até amanhã sobre as alegrias da vida celestial.

— Que me dizes, irmã?! De modo algum posso passar a noite fora do mosteiro!

Ante essa resposta, a Santa apoiou nas mãos a cabeça e rezou durante alguns instantes. Até então, o céu estava plácido e límpido. Quando, porém, ela levantou a cabeça, desabou uma chuva torrencial, com relâmpagos e trovões tão violentos que o Abade e seus discípulos não podiam sequer pensar em sair da casa.

— Que Deus todo-poderoso te perdoe, irmã! O que fizeste?

— Supliquei a ti e não quiseste atender-me. Roguei ao meu Senhor e Ele ouviu-me. Agora sai, se podes, e regressa ao mosteiro…

São Bento compreendeu que deveria conceder por força aquilo que, por amor à Regra, ele não tinha querido dar voluntariamente. E assim passaram em vigília toda aquela noite, discorrendo sobre a vida espiritual.

Três dias depois, estando recolhido em sua cela, São Bento viu a alma de Santa Escolástica sair do corpo em forma de uma pomba e elevar-se ao Céu. Comunicou o fato aos monges e enviou alguns deles para buscar aquele santo cadáver, o qual foi depositado no sepulcro que ele havia preparado para si próprio.

“Assim, nem sequer a sepultura pôde separar os corpos daqueles cujas almas haviam permanecido sempre unidas no Senhor”— conclui São Gregório Magno na sua obra “Vida de São Bento”.

Fundamental para a unidade da Europa

Ao explicar as razões pelas quais escolheu o nome Bento, assim se expressou o Santo Padre, na primeira Audiência Geral do pontificado, em 27 de abril:

O nome Bento recorda também a extraordinária figura do grande “Patriarca do Monaquismo Ocidental”, São Bento de Núrsia, co-padroeiro da Europa juntamente com os santos Cirilo e Metódio e as mulheres santas, Brígida da Suécia, Catarina de Sena e Edith Stein. A expansão progressiva da Ordem Beneditina por ele fundada exerceu uma influência enorme na difusão do Cristianismo em todo o Continente. Por isso São Bento é muito venerado também na Alemanha e, em particular, na Baviera, a minha terra de origem; constitui um ponto de referência fundamental para a unidade da Europa e uma forte chamada às irrenunciáveis raízes cristãs da sua cultura e da sua civilização.

Deste Pai do Monaquismo Ocidental conhecemos a recomendação deixada aos monges na sua Regra: “Nada anteponham absolutamente a Cristo” (Regra 72, 11; cf. 4, 21). No início do meu serviço como Sucessor de Pedro peço a São Bento que nos ajude a manter firme a centralidade de Cristo na nossa existência. Que ele esteja sempre no primeiro lugar nos nossos pensamentos e em cada uma das nossas atividades!

jun 282011
 

A origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Marcos Eduardo Melo dos Santos

A base escriturística desta devoção remonta àquele trecho do Evangelho de  João (13,23) o qual narra o reclinar-se do discípulo amado ao peito de Jesus. Há inúmeras referências na época dos Padres da Igreja e na Idade Média. No entanto, quem hoje vê o nome do Sagrado Coração honrar a divisa de diversas ordens religiosas, paróquias, instituições de ensino e de assistência social, não pode imaginar com facilidade os dramas e dificuldades no surgimento desta devoção[1].

Após uma fase de eclipse, esta devoção ganhou novo impulso após as visões de Santa Margarida Maria Alacoque (1647–1690), difundidas por seu confessor São Claude de la Colombière (1673-1675)[2].

Após 150 anos de enormes dificuldades impostas especialmente pelos jansenistas e o terror da Revolução Francesa, em 1856, Pio IX instituiu a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, propondo, segundo a recomendação dos santos, a consagração do mundo ao Coração de Jesus.

Duzentos anos após Santa Margarida pedir ao Rei Luís XIV a consagração da França, o presidente do Equador, Gabriel Garcia Moreno, consagrou seu país em 1873, ao Coração de Jesus.

Cor Iesu

Cor Iesu

Diversos Papas incentivarem esta devoção através de encíclicas[3]. Atualmente a festa do Sagrado Coração é celebrada 19 dias após a solenidade de Pentecostes.

A devoção ao sagrado Coração de Jesus se difundiu em tocantes formas de piedade popular. Em 1872, Pio IX concedeu indulgências especiais aos que portassem o escapulário com a imagem do Sagrado Coração.

Semelhantes ao escapulário, havia também os chamados “detentes” com a imagem do Coração de Jesus. Os católicos que os portavam asseguram serem protegidos durante as perseguições religiosas ou conflitos armados, como os Chouans na França, os Cristeros no México e os combatentes das grandes guerras mundiais.

A variante talvez mais tocante da piedade ao Coração de Jesus esta na união com a devoção ao Imaculado Coração de Maria segundo a recomendação de vários santos como, São João Eudes, Santa Margarida Maria Alacoque, São Luís Grignion de Montfort, Santa Catarina Labouré e São Maximiliano Kolbe.

A devoção aos Corações de Jesus e Maria é difundida nos ritos católicos e orientais, e inclusive entre anglicanos e luteranos, crescendo nas últimas décadas com a difusão da Medalha Milagrosa, e, sobretudo, após a Mensagem de Fátima.

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus em português e latim

A fim de que o leitor cresça mais e mais nesta devoção e aporfunde-se no conhecimento da língua latina oferecemos a ladainha do Sagrado Coração de Jesus em português e latim.

Em Português Latine
Senhor, tende piedade de nós. Kyrie, eléison.
Jesus Cristo, tende piedade de nós. Christe, eléison.
R/.Senhor, tende piedade de nós. R/. Kyrie, eléison.
Jesus Cristo, ouvi-nos. Christe, audi nos.
R/.Jesus Cristo, atendei-nos. R/. Christe, exáudi nos.
Deus, Pai dos Céus, tende piedade de nós. Páter de cælis, Deus, miserére nobis.
Deus Filho, Redentor do mundo, (a cada invocação responde-se “tende piedade de nós”) Fili, Redémptor mundi, Deus,
Deus Espírito Santo, Spíritus Sancte, Deus,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, Sancta Trínitas, unus Deus,
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, Cor Jesu, Fílii Patris ætérni,
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, Cor Jesu, in sinu Vírginis Matris a Spíritu Sancto formátum,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, Cor Jesu, Verbo Dei substantiáliter unítum,
Coração de Jesus, de majestade infinita, Cor Jesu, majestátis infinítæ,
Coração de Jesus, templo santo de Deus, Cor Jesu, templum Dei sanctum,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, Cor Jesu, tabernáculum Altíssimi,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu, Cor Jesu, domus Dei et porta cæli,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, Cor Jesu, fornax ardens caritátis,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor, Cor Jesu, justítiæ et amóris receptáculum,
Coração de Jesus, cheio de bondade e de amor, Cor Jesu, bonitáte et amóre plenum,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, Cor Jesu, virtútum ómnium abyssus,
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, Cor Jesu, omni laude digníssimum,
Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações, Cor Jesu, rex et centrum ómnium córdium,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, Cor Jesu, in quo sunt omnes thesáuri sapiéntiæ et sciéntiæ,
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, Cor Jesu, in quo hábitat omnis plenitúdo divinitátis,
Coração de Jesus, no qual o Pai põe as suas complacências, Cor Jesu, in quo Pater sibi bene complácuit,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, Cor Jesu, de cujus plenitúdine omnes nos accépimus,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, Cor Jesu, desidérium cóllium æternórum,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, Cor Jesu, pátiens et multæ misericórdiæ,
Coração de Jesus, rico para todos os que Vos invocam, Cor Jesu, dives in omnes qui ínvocant te,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, Cor Jesu, fons vitæ et sanctitátis,
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados, Cor Jesu, propitiátio pro peccátis nostris,
Coração de Jesus, saturado de opróbrios, Cor Jesu, saturátum oppróbriis,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, Cor Jesu, attrítum propter scélera nostra,
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, Cor Jesu, usque ad mortem obédiens factum,
Coração de Jesus, atravessado pela lança, Cor Jesu, láncea perforátum,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, Cor Jesu, fons totíus consolatiónis,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, Cor Jesu, vita et resurréctio nostra,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, Cor Jesu, pax et reconciliátio nostra,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, Cor Jesu, víctima peccatórum,
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em Vós, Cor Jesu, salus in te sperántium,
Coração de Jesus, esperança dos que expiram em Vós, Cor Jesu, spes in te moriéntium,
Coração de Jesus, delícia de todos os santos, Cor Jesu, delíciæ sanctórum ómnium,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. perdoai-nos, Senhor. R/. Parce nobis Dómine.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. atendei-nos, Senhor. R/. Exáudi nos Dómine.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. tende piedade de nós. R/. Miserére nobis.
V/. Jesus, manso e humilde de Coração, V/. Jesu, mitis et húmilis Corde,
R/. Fazei nosso coração semelhante ao vosso. R/. Fac cor nostrum secúndum Cor tuum.
Oremos. Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração de vosso Filho diletíssimo e para os louvores e as satisfações que Ele, em nome dos pecadores, Vos tributa; e aos que imploram a vossa misericórdia concedei benigno o perdão, em nome do vosso mesmo Filho Jesus Cristo, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amém. Orémus. Omnípotens sempitérne Deus, réspice in Cor dilectíssimi Fílii tui, et in laudes et satisfactiónes, quas in nómine peccatórum tibi persólvit, iísque misericórdiam tuam peténtibus tu véniam concéde placátus, in nómine ejúsdem Fílii tui Jesu Christi, qui tecum vivit et regnat in saécula sæculórum. Amen.

[1] GIGON, Paul. Notre-Dame du Sacré-Coeur. Toulon : Missionaire du Sacré-Coeur, 1957. p. 295.

[2] ABRANCHES, Joaquim. O amor do Coração de Crito. Braga: Editorial A. O. 1990. p. 119.

[3] Leão XIII na Annum Sacrum (1899) com a Oração para consagração ao Sagrado Coração; São Pio X; Pio XI na Miserentissimus Redemptor (1928); Pio XII na Haurietis aquas (1956);  João Paulo II na Redemptor Hominis (1979) e Bento XVI em carta ao Pe. Kolvenbach Geral da Comapanhia de Jesus.