fev 232012
 

8 motivos para estudar latim

037_20071016_gk51. A língua latina passou para a História como o idioma no qual a maioria dos autores clássicos, medievais e modernos escreveram suas obras. Desde os antigos (Sêneca, Cícero, Terêncio e Júlio César) passando pelos medievais (Santo Agostinho, Santo Isidoro, São Tomás de Aquino e São Anselmo) até os modernos (Isaac Newton, Descartes, Erasmo, Copérnico, Francis Bacon e Thomas Morus) legaram à humanidade obras em latim. Inclusive Nietzsche tem livros e frases famosas em latim.

2. Essa língua é considerada uma das maiores fontes do conhecimento ocidental em diversas disciplinas como teologia, história, direito, filosofia, poesia e ciências biológicas, físicas e químicas. O conhecimento do latim dá acesso à fonte original do pensamento contemporâneo. Sem o conhecimento ainda que básico desse idioma não pode haver pesquisa e pensamento profundo.

3. O latim é a língua da qual derivou as línguas romances, isto é, o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno. A aprendizagem do latim facilita a compreensão e o aprofundamento das línguas românicas. É a origem do português, a língua de nossa pátria.

4. Segundo diversos pesquisadores que com seus estudos confirmaram o senso comum dos nossos antepassados, a língua latina desenvolve o raciocínio abstrato e analítico por causa do uso das declinações. Cria o hábito da análise sintética durante a leitura e a fala, tornando gradualmente o pensamento mais organizado ao disciplinar a mente.  Segundo alguns confere maior clareza de julgamento.

5. Aumenta a capacidade de concentração e proporciona maior agilidade mental. De tal forma o latim é benéfico para a vida intelectual que ainda hoje em países de fala alemã, se estuda o latim.

6. O Direito Romano é o fundamento dos princípios que regem a legislação atual. Não é preciso explicar a importância do latim para o jargão de um estudante ou docente de direito.

7. Para um católico, o latim se torna ainda mais necessário, pois com exceção da Bíblia, as fontes teológicas, ou seja, os documentos pontifícios e a maioria dos escritos patrísticos, foram escritos em seu original na língua latina.

8.  A liturgia do Rito Latino assim como o cântico gregoriano foram escritos originalmente em latim.

set 152011
 

Ave maris Stella

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Partitura e audio em MP3 para baixar o tom simples, clique aqui. Ave Maris Stella (Gregoriano)

Avemarisstellagregorianopartituradownloadbaixar

Versão em latim e tradução literal para o português:

1. Ave, estrela do Mar,

1. Ave, maris Stella

Santa mãe de Deus

Dei Mater Alma,

e sempre Virgem,

Atque semper Virgo,

feliz porta do céu.

felix caeli porta

2. Recebendo aquele Ave,

2. Sumens illud Ave,

pela boca de Gabriel,

Gabriélis ore,

funda-nos na paz,

funda nos in pace,

mudando o nome de Eva.

mutans Evæ nomen.

3. Solvei as algemas dos réus,

3. Solve vincla reis,

provei a luz aos cegos,

profer lumen cæcis,

afastai nossos males[1],

mala nostra pelle,

rogai todos os bens[2].

bona cuncta posce.

4. Provai-nos ser [verdadeira][3] Mãe,

4. Monstra te esse Matrem,

Receba por ti a prece

sumat per te precem

Aquele que por nós nasceu,

qui pro nobis natus,

e quis ser [Filho][4] teu.

tulit esse tuus.

5. Ó Virgem singular,

5. Virgo singuláris,

Entre todas mansa (doce)[5],

inter omnes mitis,

Solvei-nos das culpas,

nos culpis solútos,

faz-nos mansos e castos,

mites fac et castos.

6. Concedei-nos uma vida pura,

6. Vitam præsta puram,

Preparai um caminho seguro,

iter para tutum,

Para que, a Jesus contemplando,

ut, vidéntes Iesum,

Sempre nos alegremos.

semper collætémur.

7. Seja o louvor a Deus Pai,

7. Sit laus Deo Patri,

Honra suma ao Cristo

summo Christo decus,

e ao Espírito Santo,

Spirítui Sancto,

aos três um só louvor. Amém.

tribus honor unus. Amen.


[1] Verbo no imperativo. No Brasil, não estamos acostumados a pedir assim…

[2] Verbo no imperativo. Idem.

[3] Verdadeira não está na versão latina, mas o sentido seria este.

[4] Filho não está na versão latina.

[5] Sentido: entre todas [as virgens] “a mais doce”.

(Tradução: Marcos Eduardo Melo dos Santos)

ago 172011
 

O canto gregoriano está intimamente ligado à língua da antiga ­Roma, e não apenas pela sua origem histórica. Muitos estudiosos defendem que suas melodias provêm da extensão do acento das palavras latinas. Daí a grande dificuldade em vertê-lo para outros idiomas, pois nem sempre se consegue fazer coincidir os acentos melódicos com os idiomáticos.

Mont Saint-Michael_France_França

François-René de Chateaubriand, famoso escritor francês do século XIX, mostra, em uma de suas obras mais conhecidas, a riqueza ­expressiva do latim e sua perfeita adaptação ao culto divino: “Cremos que uma língua anciã e misteriosa, uma língua que os séculos não alteram, assaz convinha ao culto do Ser eterno, incompreensível, imutável. E, pois que o pungir de nossas dores nos força a erguer ao Rei dos reis suplicante voz, não é natural que se Lhe fale no mais gentil idioma da Terra, naquele mesmo de que usavam as nações prostradas quando elevavam aos Césares as suas deprecações? Além disso — e notável coisa é! — as orações em latim parecem duplicar o sentimento religioso das multidões” (CHATEAUBRIAND. François-René de. Génie du christianisme, Quatrième Partie – Culte, l. 1, c. 3.)

Daí que, entre outras razões, o Concílio Vaticano II recomende, na Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia: “Zele-se, todavia, para que os fiéis cristãos possam ao mesmo tempo recitar ou cantar também em língua latina as partes do Ordinário da Missa que lhes dizem respeito” (Sacrosanctum Concilium, n. 54).

(Revista Arautos do Evangelho)

jun 212011
 

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP,
Fundador dos Arautos do Evangelho

Mons. João Scognamiglio Clás Dias elevando o Santíssimo Sacramento na Igreja Nossa Senhora do Rosário, Brasil

Mons. João Scognamiglio Clás Dias elevando o Santíssimo Sacramento na Igreja Nossa Senhora do Rosário, Brasil

Como nasceu a comemoração de “Corpus Christi”

A festa litúrgica em louvor ao Santíssimo Sacramento foi instituída em 1264 por Urbano IV. Ela deveria marcar os tempos futuros da Igreja, tendo como finalidade cantar a Jesus Eucarístico, agradecendo-Lhe solenemente por ter querido ficar conosco até o fim dos séculos sob as espécies de pão e vinho. Nada mais adequado do que a Igreja comemorar esse dom incomparável.
Logo nos primeiros séculos, a Quinta-Feira Santa tinha o caráter eucarístico, segundo mostram documentos que chegaram até nós. A Eucaristia já era o centro e coração da vida sobrenatural da Igreja. Todavia, fora da Missa não se prestava culto público a esse sacramento. O pão consagrado costumava ficar guardado numa espécie de sacristia, e mais tarde lhe foi reservado um nicho num ângulo obscuro do templo, onde se punha um cibório em forma de pomba, suspenso sobre o altar, sempre tendo em vista a eventual necessidade de atender a algum enfermo.
Mas durante a Idade Média, os fiéis foram sendo cada vez mais atraídos pela sagrada humanidade do Salvador. A espiritualidade passou a considerar de modo especial os episódios da Paixão. Criou-se por isso um clima propício para que se desenvolvesse a devoção à Sagrada Eucaristia.
O último impulso veio das visões de Santa Juliana de Monte Cornillon, uma freira agostiniana belga, a quem Jesus pediu a instituição de uma festa anual para agradecer o sacramento da Eucaristia. A religiosa transmitiu esse pedido ao arcediago de Liège, o qual, sendo eleito Papa 31 anos depois, adotou o nome de Urbano IV.
Pouco depois esse Pontífice instituía a festa de Corpus Christi, que acabou por se tornar um dos pontos culminantes do ano litúrgico em toda a Cristandade.

O “Lauda Sion”

A seqüência da Missa de Corpus Christi é constituída por um belíssimo hino gregoriano, intitulado Lauda Sion. Belíssimo por sua variada e suave melodia, e muito mais pela letra, ele canta a excelsitude do dom de Deus para conosco e a presença real de Jesus, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, no pão e no vinho consagrados.
A própria origem desse cântico é envolta no maravilhoso tipicamente medieval. Urbano IV encontrava-se em Orvieto, quando decidiu estabelecer a comemoração de Corpus Christi. Estavam coincidentemente naquela cidade dois dos mais renomados teólogos de todos os tempos, São Boaventura e São Tomás de Aquino. O Papa os convocou, assim como a outros teólogos, encomendando-lhes um hino para a seqüência da Missa dessa festa.

Apoteose de São Tomás de Aquino por Zurbarán

Apoteose de São Tomás de Aquino por Zurbarán


Conta-se que, terminada a tarefa, apresentaram-se todos diante do Papa e cada um devia ler sua composição. O primeiro a fazê-lo foi São Tomás de Aquino, que apresentou então os versos do Lauda Sion. São Boaventura, ato contínuo àquela leitura, queimou seu próprio pergaminho, não sem causar espanto em São Tomás, que perguntou “por quê?”. O santo franciscano, com toda a humildade, explicou-lhe que sua consciência não o deixaria em paz se ele causasse qualquer empecilho, por mínimo que fosse, à rápida difusão de tão magnífica Seqüência escrita pelo dominicano.

Síntese teológica, em forma de poesia

Aquilo que São Tomás ensinou em seus tratados de Teologia a respeito da Sagrada Eucaristia, ele o expôs magistralmente em forma de poesia no Lauda Sion.
Trata-se de verdadeira peça de literatura, que brilha pela profundidade do conteúdo e pela beleza da forma, elevação da doutrina, acurada precisão teológica e intensidade do sentimento. O ritmo flui de modo suave, até mesmo nas estrofes mais didáticas. A melodia — cujo autor é desconhecido — combina belamente com o texto. A unção é inesgotável.
São Tomás se revela como filósofo e místico, como teólogo da mente e do coração, realizando sua própria exortação: “Seja o louvor pleno, retumbante, alegre e cheio do brilhante júbilo da alma”.

Letra em latim e português do Louva Sião (Lauda Sion)

Em Português (lusitane)
Em latim (latine)
Para ouvir o hino, clique aqui.

1. Louva Sião, o Salvador, louva o guia e pastor com hinos e cânticos.
1. Lauda Síon Salvatórem, láuda dúcem et pastórem, in hymnis et cánticis.

2. Tanto quanto possas, ouses tu louvá-lo, porque está acima de todo o louvor e nunca o louvarás condignamente.
2. Quantum pótes tantum áude: quia máior ómni láude, nec laudáre súfficis.

3. É-nos hoje proposto um tema especial de louvor: o pão vivo que dá a vida.
3. Láudis théma speciális, pánis vívus et vitális hódie propónitur.

4. É Ele que na mesa da sagrada ceia foi distribuído aos doze, como na verdade o cremos.
4. Quem in sácrae ménsa coénae, túrbae frátrum duodénae dátum nom ambígitur.

5. Seja o louvor pleno, retumbante, que ele seja alegre e cheio de brilhante júbilo da alma.
5. Sit laus pléna, sit sonóra, sit iucúnda, sit decóra méntis iubilátio.

6. Porque celebramos o dia solene que nos recorda a instituição deste banquete.
6. Díes enim solémnis ágitur, in qua ménsae príma recólitur huius institútio.

7. Na mesa do novo Rei, a páscoa da nova lei põe fim à páscoa antiga.
7. In hac ménsa nóvi Régis, nóvum Páscha nóvae légis pháse vétus términat.

8. O rito novo rejeita o velho, a realidade dissipa as sombras como o dia dissipa a noite.
8. Vetustátem nóvitas, umbram fúgat véritas, nóctem lux elíminat.

9. O que o Senhor fez na Ceia, nos mandou fazê-lo em memória sua.
9. Quod in coéna Chrístus géssit, faciéndum hoc expréssit in súi memóriam.

10. E nós, instruídos por suas ordens sagradas, consagramos o pão e o vinho em hóstia de salvação.
10. Dócti sácris institútis, pánem, vínum in salútis consecrámus hóstiam.

11. É dogma de Fé para os cristãos que o pão se converte na carne e o vinho no sangue do Salvador.
11. Dógma dátur christiánis, quod in cárnem tránsit pánis, et vínum in sánguinem.

12. O que não compreendes nem vês, uma Fé vigorosa te assegura, elevando-te acima da ordem natural.
12. Quod non cápis, quod non vídes, animósa fírmat fídes, praeter rérum órdinem.

13. Debaixo de espécies diferentes, aparências e não realidades, ocultam-se realidades sublimes.
13. Sub divérsis speciébus, sígnis tantum, et non rébus, latent res exímiae.

14. A carne é alimento e o sangue é bebida; todavia debaixo de cada uma das espécies Cristo está totalmente.
14. Cáro cíbus, sánguis pótus: mánet tamen Christus tótus sub utráque spécie.

15. E quem o recebe não o parte nem divide, mas recebe-o todo inteiro.
15. A suménte non concísus, non confráctus, non divísus: integer accípitur.

16. Quer o recebam mil, quer um só, todos recebem o mesmo, nem recebendo-o podem consumi-lo.
16. Súmit únus, súmunt mílle: quantum ísti tantum ílle: nec súmptus consúmitur.

17. Recebem-no os bons e os maus igualmente, todos recebem o mesmo, porém com efeitos diversos: os bons para a vida e os maus para a morte.
17. Súmunt bóni, súmunt máli: sórte tamen inaequáli, vítae vel intéritus.

18. Morte para os maus e vida para os bons: vêde como são diferentes os efeitos que produz o mesmo alimento.
18. Mors est mális, víta bónis: víde páris sumptiónis quam sit díspar éxitus.

19. Quando a hóstia é dividida, não vaciles, mas recorda que o Senhor encontra-se todo debaixo do fragmento, quanto na hóstia inteira.
19. Frácto demum Sacraménto, ne vacílles, sed meménto tantum ésse sub fragménto, quantum tóto tégitur.

20. Nenhuma divisão pode violar a substância: apenas os sinais do pão, que vês com os olhos da carne, foram divididos! Nem o estado, nem as dimensões do Corpo de Cristo são alterados.
20. Núlla réi fit scissúra: sígni tantum fit fractúra, qua nec státus, nec statúra signáti minúitur.

21. Eis o pão dos Anjos que se torna alimento dos peregrinos: verdadeiramente é o pão dos filhos de Deus que não deve ser lançado aos cães.
21. Ecce pánis Angelórum, fáctus cíbus viatórum: vere pánis filiórum, non mitténdus cánibus.

22. As figuras o simbolizam: é Isaac que se imola, o cordeiro que se destina à Páscoa, o maná dado a nossos pais.
22. In figúris praesignátur, cum Isaac immolátur, agnus Páschae deputátur, dátur mánna pátribus.

23. Bom Pastor, pão verdadeiro, Jesus, de nós tende piedade. Sustentai-nos, defendei-nos, fazei-nos na terra dos vivos contemplar o Bem supremo.
23. Bóne Pástor, pánis vére, Jésu, nóstri miserére: Tu nos pásce, nos tuére, Tu nos bóna fac vidére in térra vivéntium.

24. Ó Vós que tudo sabeis e tudo podeis, que nos alimentais nesta vida mortal, admiti-nos no Céu, à vossa mesa e fazei-nos co-herdeiros na companhia dos que habitam a cidade santa.
24. Tu qui cúncta scis et váles, qui nos páscis hic mortáles: túos ibi commensáles, cohaerédes et sodáles fac sanctórum cívium.

Amém. Aleluia.