nov 042012
 

Epistola de modo studendi

Quia quaesisti a me, in christo mihi carissime Ioannes, qualiter te studere oporteat in thesauro scientiae acquirendo, tale a me tibi traditur consilium: ut per rivulos, non statim in mare, eligas introire, quia per faciliora ad difficiliora oportet devenire.
Haec est ergo monitio mea et instructio tua. Tardiloquum te esse iubeo et tarde ad locutorium accedentem; conscientiae puritatem amplectere.
Orationi vacare non desinas; cellam frequenter diligas si vis in cellam vinariam introduci.
Omnibus te amabilem exhibe; nihil quaere penitus de factis aliorum; nemini te multum familiarem ostendas, quia nimia familiaritas parit contemptum et subtractionis a studio materiam subministrat; de verbis et factis saecularium nullatenus te intromittas; discursus super omnia fugias; sanctorum et bonorum imitari vestigia non omittas; non respicias a quo audias, sed quidquid boni dicatur, memoriae recommenda; ea quae legis et audis, fac ut intelligas; de dubiis te certifica; et quidquid poteris in armariolo mentis reponere satage, sicut cupiens vas implere; altiora te ne quaesieris.
Illa sequens vestigia, frondes et fructus in vinea domini Sabaoth utiles, quandiu vitam habueris, proferes et produces. Haec si sectatus fueris, ad id attingere poteris, quod affectas.
(S. Thomae Aquinatis Opera Omnia. Cord. Roberto BUSA. t. 6. Torino: Aloisianum: 1980. p.580).

Carta sobre o modo de estudar

São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino, Catedral de Notre Dame de Paris, França

O que me pedistes, João caríssimo em Cristo, de te demonstrar o modo de adquirir o tesouro da ciência, tal como a mim, te dou um conselho: não logo pelo mar escolhas entrar, mas inicia-te pelos rios, porque, pelas coisas mais fáceis se chega a conhecer as mais difíceis.
Esta é minha advertência e a tua instrução. Te recomendo ser tardo no falar ou para achegar-se ao locutório; abraçai a pureza de consciência.
Não deixes as orações; frequenta muito o teu quarto para que adquiras o vinho do saber.
Para todos mostra-te amável; nada de desagradável desejes para teu próximo, não te mostres muito familiar a ninguém, porque demasiada intimidade gera rixas e subtração dos estudos. Das palavras e fatos mundanos não te intrometas, discursar sobre tudo, abstenha-te; não deixes de imitar os passos dos bons e dos santos; não prestes atenção em tudo que ouvirdes, mas do que foi dito de bom, guarda na memória. O que lerdes e ouvirdes procurai entender, do que é duvidosos certifica-te, e retenhas o que puderdes guardar na mente, assim enchereis o vaso, mas não desejais coisas mais altas que possais reter.
Seguindo estes passos, ramos e frutos na vinha do Senhor dareis, e a vida tereis, profícua e produtiva. Se isto seguirdes, podereis atingir o que desejais.

(Tradução : Marcos Eduardo Melo dos Santos)

maio 122012
 

 

Ivanaldo Santos[1]

De acordo com a Constituição Apostólica Veterum Sapientia, que trata do uso do latim pela Igreja, essa língua:

 

Nascida nos confins do Lácio, ela auxiliou de modo admirável a difusão do nome cristão nas regiões ocidentais. Não sem disposição divina aconteceu que aquele  idioma que reuniu por muitos séculos numa amplíssima sociedade de povos sob a autoridade do Império Romano foi assumido como língua própria da Sé Apostólica e, guardada pela posteridade, uniu uns com os outros os povos cristãos da Europa num alto vínculo.

Pela sua própria natureza a língua latina é apta a promover junto a qualquer povo toda cultura humana; e como não suscita a inveja e se apresenta com equidade diante de todos os povos, sem favorecer qualquer parte, é para todos aceitável e agradável. E não se deve negligenciar que na oração latina há uma nobreza de forma e estrutura, possibilitando um estilo conciso, rico, variegado, cheio de majestade e de dignidade, que contribui de maneira singular à clareza e à perspicácia.[2]

Além disso, acrescenta o documento pontifício:

A ninguém é lícito duvidar que não exista nos discursos dos romanos ou em suas veneráveis cartas uma força intrínseca para instruir as mentes informes dos adolescentes. Através dela, de fato, formam-se, amadurecem, se aperfeiçoam as melhores capacidades da alma; aguçam-se a acuidade da mente e a capacidade do juízo; além disso, a inteligência pueril é mais convenientemente preparada para compreender e julgar no justo sentido de cada coisa; enfim, aprende-se a pensar e a falar com suma ordem [razão].[3]

 

São Tomás de Aquino com São Pedro e São Paulo, Catedral de Dijon, França

São Tomás de Aquino com São Pedro e São Paulo, Catedral de Dijon, França

Apesar da alta contribuição para a sociedade, atestada pela Veterum Sapientia, atualmente o latim passa por um momento bastante peculiar. De um lado, há um renascimento do interesse e dos estudos sobre o latim e, de outro lado, esse idioma é constantemente acusado de ser uma língua morta e de estar ligado à cultura e à liturgia cristã. Em um mundo marcado pelo secularismo, pelo preconceito e até mesmo pelo desprezo pelo sagrado, a identificação do latim com o Cristianismo torna seu estudo um elemento problemático.

Entretanto, como bem salienta Haroldo Bruno o latim é “uma língua viva (do passado)”,[4] ou seja, não se pode negar que o latim atualmente seja uma língua que não desfruta do status de idioma oficial de alguma grande nação. O único governo que mantém o latim como língua oficial é a Cidade do Vaticano, a Sé Apostólica da Igreja, menor Estado do mundo. Com isso, atualmente o latim não tem o prestígio político que desfrutou até o século XVIII.

No entanto, o latim é uma língua viva. Muitas comunidades, ao redor do mundo, ainda preservam o latim. Sem contar que ele é fundamental para o estudo e a compreensão da rica cultura ocidental. É preciso ter consciência que a produção cultural do Ocidente (literatura, filosofia, teologia, etc) foi realizada, durante mais de 1500 anos, com a língua latina. Sem ela não teríamos, por exemplo, a eloquência de Cícero, o grande orador romano, a mística e a arte monástica e o gênio humanístico de Tomás de Aquino. Por causa desses e outros fatores que não foram mencionados é preciso, mais do que nunca, superar o “preconceito de que o latim é uma língua morta”[5] e mergulhar na investigação dessa importante e clássica língua ocidental.

Apenas para se ter uma pequena ideia do interesse crescente em torno do latim, recentemente um grupo de estudantes universitários criaram um site inteiramente em latim.[6] Movidos pela beleza e precisão da língua latina, alguns estudantes do Instituto Teológico São Tomás de Aquino (ITTA), em São Paulo, realizaram uma iniciativa inédita no Brasil: criaram um site escrito em latim. Trata-se do Praecones Latine (http://latine.blog.arautos.org/), que reúne textos, artigos, orações e notícias.

O latim “singularmente contribui à clareza e à seriedade”[7] da reflexão e do pensamento. Muitos literatos e pensadores jamais teriam composto suas obras se não fosse por meio do auxílio, direto ou indireto, do latim. Por causa disso ele muito contribuiu e contribui “para o progresso do gênero humano”,[8] permitindo, ao mesmo tempo, que a “comunicação seja universal”,[9] mas “também imutável”.[10]

Em nossos dias são inúmeros os exemplos que podem ser dados sobre o uso do latim. Entre esses exemplos cita-se: a importância do latim para o ensino de português,[11] o uso do latim na liturgia católica,[12] a discussão sobre a estética barroca,[13] a atualidade da configuracionalidade em latim clássico e em latim vulgar[14] e até mesmo a realização das propostas para padronização da terminologia empregada em sistemas agroflorestais.[15]

Não é intensão desse pequeno artigo apresentar toda a rica atualidade da língua latina. A intensão é bem mais modesta. O objetivo desse artigo é apresentar a importância do latim para os estudos tomistas.

É preciso realizar dois importantes esclarecimentos. O primeiro é que ao longo da discussão não serão abordadas ou definidas expressões, como, por exemplo, tomismo e tomista. Essa discussão foi realizada por estudiosos como Paulo Faitanin,[16] Francisco Elias de Tejada[17] e João Clá Dias.[18] O segundo é que temas de suma importância para a compreensão do latim em Tomás de Aquino não serão tratados. Entre esses temas cita-se: fonologia, morfologia e os aspectos sintáticos. Em grande medida eles foram pesquisados por Nestor Dockhorn.[19]

De posse desses dois esclarecimentos passa-se a se apresentar um conjunto de sete explicações que demostram a importância do latim para os estudos tomistas.

A primeira explicação é o fato de Tomás de Aquino ser um dos maiores pensadores e humanistas de toda a história. Sem a rica obra produzida pelo Aquinate dificilmente a humanidade teria conseguindo avançar em muitos campos do conhecimento, como, por exemplo, a teologia, a filosofia e o direito. Como bem observa Paulo Faitanin a obra de Tomás de Aquino está aberta a dialogar com as “verdades de qualquer época”.[20] Sem contar que o Aquinate é uma influência marcante dentro do pensamento contemporâneo,[21] conseguido provocar um raro e frutífero diálogo, por exemplo, com Martin Heidegger (tomismo heideggeriano), com a fenomenologia (tomismo fenomenológico), com o existencialismo (tomismo existencial), com a lógica (tomismo lógico) e mais recentemente com a filosofia analítica (tomismo analítico).

A questão central é que, como bem salienta Nestor Dockhorn,[22] Tomás escreveu uma vasta obra, desde pequenas produções poéticas litúrgicas até obras de grande fôlego. Os hinos eucarísticos Lauda Sion e Pange lingua (no qual se insere o conhecido Tantum ergo) são dignos de estudo, por seu conteúdo e por sua métrica. Além disso, escreveu obras filosóficas, tais como: De ente et essentia, De aeternitate mundi, De veritate, De malo e outras. Trabalhou com vários textos de Aristóteles. Suas obras mais importantes foram a Summa contra gentiles (que é uma exposição do Cristianismo dirigida a não crentes) e a Summa theologiae, também chamada Summa theologica. Esta última se apresenta como uma obra didática destinada a ajudar aos estudantes iniciais de teologia e filosofia. Na verdade, é uma das obras mais profundas e extensas que foram escritas no campo da teologia filosófica. Sua lógica, sua divisão em partes, seu raciocínio são admiráveis.

No entanto, todo o chamado corpus tomista, ou seja, o conjunto da obra produzida pelo Aquinate, é em latim. Para a produção de sua obra intelectual Tomás utilizou o latim medieval. Como ressalta Jean Lauand[23] o latim medieval alimenta-se não só do latim da antiguidade clássica, mas também da vida litúrgica; não era uma língua morta — como muitos defendem contemporaneamente —, mas estava continuamente desenvolvendo-se vivamente. Por sua vez, Tomás de Aquino, mergulhado na cultura medieval e clássica, cuida de não empregar essa língua com caráter técnico, artificial, terminológico, mas mantê-la com a viveza de uma linguagem corrente, natural.

Para um estudioso ou um iniciante nas reflexões contidas no corpus tomista é de suma importância o conhecimento do latim. Mesmo que o pesquisador não tenha um domínio pleno do latim — em grande parte devido a todas as sutilezas e exceções contidas na língua latina — é preciso conhecer um pouco dessa língua para poder realizar uma leitura e uma investigação mais apropriadas.

São Tomás de Aquino, Catedral de Notre Dame de Paris, França

São Tomás de Aquino, Catedral de Notre Dame de Paris, França

A segunda explicação é que apesar de em muitas partes do mundo, especialmente na Europa e nos EUA, haver boas traduções de algumas obras do Aquinate, especialmente da Summa contra gentiles e da Summa theologiae, o fato é que são poucos os países que possuem a tradução completa do corpus tomista. A grande maioria dos países e, por conseguinte, das línguas, possuem uma tradução limitada do corpus tomista. Sem contar que existe um grande número de línguas e ambientes — especialmente os confins tribais, isolados e de difícil comunicação tecno-cultural — que simplesmente não possuem a tradução de nenhuma obra do Aquinate.

Por esses fatores torna-se fundamental o conhecimento do latim. Sem o conhecimento dessa língua é praticamente impossível uma boa discussão do corpus tomista.

A terceira explicação é a intima relação entre Tomás de Aquino e a escolástica medieval e a escolástica moderna — que nasce no final do século XVIII e chega até o século XXI — também conhecida como neoescolástica. Para se apresentar essa explicação serão desenvolvidos dois argumentos.

O primeiro é que a escolástica medieval deve seu ponto áureo e seu apogeu com a obra produzida por Tomás de Aquino.[24] E como visto anteriormente, essa obra foi produzida em língua latina. Para se conhecer e pesquisar, com profundidade, a escolástica e o seu maior vulto, o Aquinate, é preciso ter certo domínio do latim.

O segundo é que apesar das pesquisas realizadas pela neoescolástica, em grande medida, serem em língua vernácula, o latim é fundamental para a compreensão dessas pesquisas. Sem o latim é difícil ou quase impossível haver um entendimento sobre os conceitos e a discussão intelectual que está sendo desenvolvida. O domínio do latim é fundamental para o domínio do conteúdo presente nos debates travados pelos neoescolásticos.

A quarta explicação é a necessidade de se compreender, de forma clara e precisa, os conceitos desenvolvidos por Tomás de Aquino. Ele pensou, escreveu e produziu sua obra em latim. Muitas vezes redefini antigos conceitos, oriundos da antiguidade, ou elabora novos. Um bom exemplo é dado por Renato Cancian.[25] Segundo ele, Tomás elabora uma sofisticada discussão em torno do conceito de intelecto. Para ele, o Aquinate partiu do princípio de que os seres humanos, ao contrário dos animais, têm a capacidade do intelecto ou entendimento (em latim intellectus). A palavra latina intellectus deriva do verbo intelligire e se traduz, vulgarmente, por entender, mas, no latim de Tomás de Aquino, é um verbo de uso muito mais geral que corresponde, aproximadamente, ao nosso pensar. A partir dessa discussão Tomás fez considerações a respeito da divisão e do método ou modo de proceder das ciências teóricas. Trata-se de reflexões que permanecem atuais. Essas e outras reflexões que foram realizadas pelo Aquinate só podem ser totalmente compreendidas se houver certo domínio da língua latina. É muito difícil entender a ampla complexidade dos conceitos tomistas se não houve domínio do latim. Por isso, o latim torna-se fundamental.

A quinta explicação é toda a rica tradição de pesquisas do neotomismo. Uma tradição que remonta ao final do século XVIII[F1]  e chega, com grande vigor, ao século XXI. O neotomismo é profundamente orientado pelo princípio de que a obra de Tomás de Aquino é perene, ou seja, constante. Por isso, ao contrário do que muitos críticos afirmam, ela não está presa a Idade Média. Trata-se de uma obra capaz de orientar, ao longo dos séculos, todos os pensadores que, livres dos preconceitos ideológicos que regem a modernidade, estudarem os problemas que angustiam o ser humano, sendo, para tanto, “inteiramente sustentados por Tomás”.[26]

Graças a essa sustentação foi possível surgir importantes pensadores contemporâneos, como, por exemplo, Étienne Gilson, Jacques Maritain, Cornelio Fabro, Anthony Kenny, Peter Thomas Geach e John Haldane. Esses pensadores só conseguiram realizar suas reflexões — cada uma tendo seu próprio objeto de estudo — graças à influência de Tomás de Aquino.

No entanto, o neotomismo e qualquer outra corrente que estude Tomás no século XXI tem que ter certo domínio do latim. Só é possível compreender profundamente o corpus tomista e, por conseguinte, aplicá-lo a pesquisas contemporâneas, se houver um amparo na língua latina. O estudo dessa língua torna-se quase obrigatório a todos que desejam realizar uma séria pesquisa de corte neotomista.

A sexta explicação é a recomendação, dada pela Santa Sé,[27] que a obra de Tomás de Aquino, especialmente a Summa theologiae, deve ser ensinada, refletida e compreendida nas universidades, escolas, seminários, mosteiros, conventos e demais centros de estudos católicos. Além disso, dentro dos limites previstos pela legislação de cada país, essa obra também deve ser ensinada dentro dos centros de ensinos (universidades, escolas, institutos tecnológicos, etc) seculares e civis.

O ensino da obra do Aquinate nos diversos ambientes de estudos e pesquisas só trará o enriquecimento e o aprimoramento da cultura humanística. No entanto, deve-se ensinar e, ao mesmo tempo, refletir a obra do Aquinate dentro da dinâmica interna de cada cultura e de cada língua vernácula, sem jamais descuidar das “lições da língua latina”.[28] O estudo de Tomás de Aquino deve-se sempre levar em conta a língua latina como uma das fontes de inspiração e de compreensão de Tomás de Aquino.

A sétima e última explicação é o fato da obra de Tomás de Aquino estar sendo utilizada, por pensadores neotomistas e de outras correntes do pensamento, para refletir e combater os erros “filosóficos da modernidade”.[29] Como bem salientou o Papa Leão XIII a “sociedade civil se encontra em grave perigo”.[30] E esse perigo é oriundo de um grande número de doutrinas “cheias de erros e falácias”,[31] as quais caem no “absurdo de afirmar que a distinção do verdadeiro e do falso não conduz à perfeição da inteligência”.[32] Entre essas doutrinas é possível citar, por exemplo, o positivismo científico, o marxismo, o anarquismo e o relativismo cultural. Para combater esses erros e restaurar a saudável diferença entre a verdade e a falsidade é preciso ter em mente que o corpus tomista é uma grande fonte “para a refutação dos erros dominantes”[33] na sociedade.

Como visto anteriormente, o corpus tomista foi composto em latim. Por isso, para haver uma autêntica leitura de Tomás e, posteriormente, uma aplicação dessa leitura ao processo de crítica e refutação dos erros doutrinários da modernidade, é preciso haver domínio, pelo menos parcial, do latim. Em grande medida, um pesquisador que deseje realizar uma séria crítica — alicerçado em Tomás de Aquino — as ideologias que povoam o imaginário moderno, deverá ter certa compreensão da língua latina.

É preciso ter em mente que as sete explicações que foram apresentadas não esgotam o debate em torno da importância do latim para os estudos tomistas. Em certa medida, ser tomista ou pelo menos simples leitor de Tomás de Aquino implica em também ser um estudioso do latim.

Por fim, afirma-se que há uma relação de mão dupla em torno do debate entre Tomás de Aquino e o latim. De um lado, Tomás de Aquino, com sua vasta obra, permitiu um reavivamento do latim, tanto no século XIII, época em que viveu, como também ao longo de toda a história das ideias. Do outro lado, a preocupação que os estudos tomistas devem sempre ter com o latim, contribui para que essa língua sempre esteja no centro das preocupações investigativas e, com isso, não seja uma língua morta.

 

Publicado em:

(Revista Lumen Veritatis. Vol. 5. Nº 18. Janeiro-Março de 2012. p. 107-114).

 


[1] Doutor em estudos da linguagem pela UFRN, professor do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN. E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br.

[2] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 3. AAS … (Tradução minha) Quarum in varietate linguarum ea profecto eminet, quae primum in Latii finibus exorta, deinde postea mirum quantum ad christianum nomen in occidentis regiones disseminandum profecit. Siquidem non sine divino consilio illud evenit, ut qui sermo amplissimam gentium consortionem sub Romani Imperii auctoritate saecula plurima sociavisset, is et proprius Apostolicae Sedis evaderet et, posteritati servatus, christianos Europae populos alios cum aliis arto unitatis vinculo coniungeret.

Suae enim sponte naturae lingua Latina ad provehendum apud populos quoslibet omnem humanitatis cultum est peraccommodata: cum invidiam non commoveat, singulis gentibus se aequabilem praestet, nullius partibus faveat, omnibus postremo sit grata et amica. Neque hoc neglegatur oportet, in sermone Latino nobilem inesse conformationem et proprietatem; siquidem loquendi genus pressum, locuples, numerosum, maiestatis plenum et dignitatis  habet, quod unice et perspicuitati conducit et gravitati.

[3] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 9. Neque vero cuique in dubio esse potest, quin sive Romanorum sermoni sive honestis litteris ea vis insit, quae ad tenera adulescentium ingenia erudienda et conformanda perquam apposita ducatur, quippe qua tum praecipuae mentis animique facultates exerceantur, maturescant, perficiantur ; tum mentis sollertia acuatur iudicandisque potestas; tum puerilis intellegentia aptius constituatur ad omnia recte complectenda et aestimanda; tum postremo summa ratione sive cogitare sive loqui discatur.

[4] BRUNO, H. Latim e formação linguística. In: Alfa, Revista de Linguística, São Paulo, n. 34, 1990, p. 70.

[5] BRUNO, H. Latim e formação linguística. op., cit, p. 69.

[6] ESTUDANTES BRASILEIROS CONSTROEM UM SITE ESCRITO EM LATIM. In: ITTA Notícias. Disponível em http://ittanoticias.arautos.org/?p=1416. Acessado em 15/08/2011.

[7] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 5.

[8] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 2.

[9] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 5.

[10] PAPA JOÃO XXIII. Constituição Apostólica Veterum Sapientia. Sobre o uso do Latim, n. 6.

[11] BORTOLANZA, J. O latim e o ensino de português. In: Revista Philologus, Rio de Janeiro: set./dez. 2000, n. 18, p. 77-85.

[12] PAPA PIO XII. Mediator Dei. Sobre a sagrada liturgia, n. 173-174; 177. AAS [citar a Acta Apostolicae Sedis] ; PAPA BENTO XVI. Carta Apostólica em forma de Motu Próprio Summorum Pontificum, n. 1 e 3. Tradução portuguesa pela CNBB. São Paulo: Paulinas, 2011.

[13] SANTO, A. E. A estética barroca do latim da Clavis Prophetarum do P. António Vieira. In: Ágora, Estudos Clássicos em Debate, n. 1, 1999, p. 105-131.

[14] MARTINS, M. C. S. Configuracionalidade em latim clássico e latim vulgar. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem, 2002.

[15] DANIEL, O. [et al]. Propostas para padronização da terminologia empregada em sistemas agroflorestais no Brasil. In: Revista Árvore, Viçosa, v. 23, n. 3, p. 367-370, 1999.

[16] FAITANIN, P. A Filosofia Tomista. In: Aquinate, Niterói, n. 3, 2006, p. 133-146; FAITANIN, P. O que é tomismo? In: Instituto Aquinate, 2010. Disponível em http://www.aquinate.net/portal/Tomismo/Tomismo-significado/tomismo-significado3edicao.htm. Acessado em 16/03/2010.

[17] ELÍAS DE TEJADA, F. Porque somos tomistas: da Teologia à Política. Comunicação apresentada ao Convegno di Studi per la celebrazione di San Tommaso d’Aquino nel VII Centenario, realizado em Gênova em 1974. In: Hora Presente, ano VI, n. 16, São Paulo, setembro de 1974, p. 93-103.

[18] DIAS, J. C. Por que ser tomista? In: Lumen Veritatis, Revista de Inspiração Tomista, n. 1, outubro/dezembro 2007.

[19] DOCKHORN, N. O latim de Tomás de Aquino, 2011, p. 3-7. Disponível em http://www.filologia.org.br/ixcnlf/13/10.htm. Acessado em 15/08/2011.

[20] FAITANIN, P. A Sabedoria do Amor. Iniciação à Filosofia de Santo Tomás de Aquino. Niterói: Instituto Aquinate, 2008, p. 20.

[21] VAN ACKER, L. O tomismo e o pensamento contemporâneo. São Paulo: EDUSP, 1983; FABRO, C. Santo Tomás de Aquino: ontem, hoje e amanhã. Entrevista concedida à revista Palabra, n. 103, Madri, março de 1974. In: Hora Presente, ano VI, n. 16, São Paulo, setembro de 1974, p. 246-254.

[22] DOCKHORN, N. O latim de Tomás de Aquino. op., cit, p. 3.

[23] LAUAND, J. Razão, natureza e graça: Tomás de Aquino em Sentenças, 2010, p. 12. Disponível em http://www.hottopos.com/mp3/sentom.htm. Acessado em 15/08/2011.

[24] HIRCHBERGER, J. História da filosofia na Idade Média. São Paulo: Herder, 1966; ADRIANO, J. A razoabilidade da fé: São Tomás e a Escolástica. In: Lumen Veritatis, Revista de Inspiração Tomista, n. 1, outubro/dezembro 2007, passim.

[25] CANCIAN, R. Tomás de Aquino: ciências práticas e especulativas. In: Uol Educação, 2011. Disponível em http://educacao.uol.com.br/filosofia/tomas-de-aquino-ciencias-praticas-e-especulativas.jhtm. Acessado em 15/08/2011.

[26] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, n. 36. In: Aquinate, Niterói, n. 12, 2010, p. 117-151.

[27] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. op., cit, n. 51.

[28] PAPA PIO X. Moto Próprio Doutor Angélico. Sobre a promoção da doutrina de S. Tomás de Aquino nas escolas católicas, n. 7. In: Aquinate, Niterói, n. 11, 2010, p. 111-120.

[29] ROVIGHI, S. V. História da filosofia contemporânea. São Paulo: Loyola, 2001, p. 649.

[30] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. op., cit, n. 51.

[31] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. op., cit, n. 16.

[32] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. op., cit, n. 17.

[33] PAPA LEÃO XIII. Aeterni Patris. Da instauração da filosofia cristã nas Escolas Católicas, segundo a mente de Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. op., cit, n. 56.


 [F1]Parece não ser no final do séc. XVIII

jun 222011
 

Quem foi o autor do hino gregoriano Adoro te devote?

O mundo viu nascer Tomás de Aquino no ano de 1225, no castelo de Roccasecca, próximo a Nápoles, na Itália. Dos sete filhos do conde Landolfo d’Aquino, Tomás era o mais novo. Aos cinco anos, foi enviado ao famoso Convento de Monte Cassino, para lá ser educado. Seu tio, Sunibaldo, era abade e encarregou-se de sua formação. Tudo indica que sua família também ansiava que ele viesse a ser o superior daquele prestigioso mosteiro.
Pouco se sabe deste período de sua vida, a não ser que o “pequeno monge”, ao percorrer o majestoso claustro daquela abadia, inquiria os religiosos sobre um tema que não saía da sua mente: “Que é Deus?”. Não passaram para a história as respostas proferidas. Contudo, parece certo dizer que ninguém lhe respondeu satisfatoriamente, pois, desde criança, ele fez dessa primeira indagação a força motriz que o impulsionaria a produzir a maior obra teológica de todos os tempos.
Ao ingressar na vida acadêmica, rapidamente destacou-se pela prodigiosa fecundidade de pensamento. Esse doutor que mereceu ser chamado “Angélico”, foi um grande luzeiro posto por Deus no meio de sua Igreja, a fim de esclarecer, confortar e animar as almas pelos séculos futuros. Viveu apenas 49 anos, dedicando a metade de sua vida à nobre e árdua tarefa de ensinar nos mais importantes centros universitários da França, Itália e Alemanha.
Guilherme de Tocco, seu primeiro e principal biógrafo, afirmou que “nas aulas o seu gênio começou a brilhar de tal forma e a sua inteligência a revelar-se tão perspicaz, que repetia aos outros estudantes as lições dos mestres de maneira mais elevada, mais clara e mais profunda do que as tinha ouvido” (1).
São Tomás soube unir harmoniosamente a santidade com a genialidade, e a erudição com a virtude, a fim de produzir a maior obra teológica de todos os tempos. Durante os quase oito séculos que separam sua existência da nossa, foi ele sempre exaltado com eloquentes louvores pelos Papas, em termos não comuns em documentos pontifícios.
O Papa João XXII, em 1318, afirmou: “Ele sozinho iluminava a Igreja mais que os outros doutores. Lendo seus livros um homem aproveita mais em um ano do que durante toda a sua vida”(2). São Pio V, em 1567, não foi menos categórico: “A Igreja fez dela a sua doutrina teológica, por ser a mais certa e a mais segura de todas”. E o Papa Leão XIII, em 1892, disse que “se se encontram doutores em desacordo com São Tomás, qualquer que seja o seu mérito, a hesitação não é permitida; sejam os primeiros sacrificados ao segundo”. Por sua vez, o Concílio Vaticano II aconselha que São Tomás seja seguido nos Seminários e nas Universidades católicas. O Papa Paulo VI, comentando esse fato, disse: “é a primeira vez que um Concílio Ecumênico recomenda um teólogo, e este é precisamente São Tomás de Aquino”.

São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino

Festa de Corpus Christi e o Adoro te Devote

Como vimos no post anterior História da solenidade de Corpus Christi e a sequência Lauda Sion (letra em português e latim), São Tomás compôs o ofício litúrgico para a Festa de Corpus Christi. Além da sequência Lauda Sion, o Doutor Angélico compôs o Adoro te devote, o qual disponibilizamos aos leitores de Praecones Latine em sua versão original latina e tradução portuguesa.

Letra do Adoro te Devote em português

1. Devotamente Vos adoro, ó Divindade escondida,
velada realmente nesta figuras:
Meu coração a Vós se submete plenamente,
que desfalece inteiro, Vos contemplando.

2. A vista, o tato, o paladar aqui se enganam,
só o que ouço sustenta a minha Fé.
Pois creio no que disse o Filho do Deus vivo;
E nada há mais verdadeiro que a palavra da Verdade.

3. Na Cruz estava oculta só a divindade;
Aqui também se oculta a humanidade;
Contudo numa e outra creio e confesso,
o que pedia o ladrão arrependido, peço.

4. Como Tomé não vejo as chagas,
por meu Deus, contudo, Vos proclamo.
Que eu creia sempre mais e mais,
em Vós espere, que eu Vos ame.

5. Ó lembrança da morte do Senhor!
Pão vivo que ao homem dais a vida.
Concedei à minha alma em Vós viver,
que a ela seja doce Vos pertencer.

6. Senhor Jesus, pelicano cheio de ternura,
purificai-me por Vosso Sangue, eu imundo.
Deste Sangue pelo qual uma só gota,
basta para limpar os crimes ao mundo.

7. Ó Deus, que agora velado vejo,
concedei ao ardor de meus desejos,
que vendo-Vos um dia face a face,
em gáudio contemple Vossa glória eternamente. Amém.

Letra do Adoro te devote em latim

Para ouvir o cântico gregoriano executado pelos Arautos do Evangelho, clique aqui.

1. Adóro te devóte, látens Déitas,
quae sub his figúris vere látitas:
Tíbi se cor méum tótum súbjicit,
quia te contémplans tótum déficit.

2. Vísus, táctus, gústus in te fállitur,
sed audítu sólo tuto créditur:
Crédo quídquid dixit Déi Fílius:
Nil hoc Vérbo veritátis vérius.

3. In crúce latébat sóla Déitas,
at hic látet simul et humánitas:
Ambo tamen crédens atque cónfitens,
péto quod petívit látro páenitens.

4. Plágas, sicut Thóma, non intúeor:
Déum tamen méum te confíteor:
Fac me tíbi semper magis crédere,
in te spem habére, te dilígere.

5. O memoriále mórtis Dómini,
pánis vívus vítam praestans hómini,
praésta méae ménti de te vívere,
et te ílli semper dúlce sápere.

6. Píe péllicáne Jésu Dómine,
me immúndum múnda túo sánguine,
cújus úna stílla sálvum fácere
tótum múndum quit ab ómni scélere.

7. Jesu, quem velátum nunc aspício,
oro, fiat illud quod tam sítio,
ut te reveláta cernes fácie,
visu sim beátus tuae glóriae. Amen.

Bibliografia
(1) Guillelmus de Tocco: Storia Sancti Thome de Aquino, ed. C. Le Brun Gouanvic, Pontifical Institute of Medieval Studies, Toronto, 1996.
(2) As citações mencionadas neste parágrafo encontram-se na obra: Odilão, Moura. Prefácio a Exposição Sobre o Credo. In: Tomás De Aquino. Exposição Sobre o Credo. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1981. pp. 11-16.