maio 162012
 
Liber_Cantualis

O coletânea dos mais belos cânticos gregorianos, que vem a lume sob a coordenação do Pe. Pedro Morazzani, EP, é fruto de décadas do cultivo do gregoriano no dia-a-dia da comunidade religiosa dos Arautos do Evangelho. Cada melodia está acompanhada da partitura e da tradução portuguesa do texto latino.

O gregoriano nasceu na aurora da Idade Média com a compilação de alguns hinos usados pela cristandade primitiva por ordem do Papa São Gregório Magno (590-604). Essa coletânea de cânticos eclesiásticos passou para a História com o nome de canto “gregoriano” em homenagem ao virtuoso Pontífice.

Passados tantos séculos do seu surgimento, o Concílio Vaticano II definiu o gregoriano “como o canto próprio da liturgia romana”, destinado na ação litúrgica ao “primeiro lugar” (Sacrosanctum Concilium, 116). Em razão disso os padres conciliares procuraram estimular os fieis a “cultivar com sumo cuidado o tesouro da música sacra” recomendando de maneira ingente a formação de schola cantorum “nos Seminários, noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como em outros institutos e escolas católicas” (Idem, 114-115).

Anos mais tarde, o Papa João Paulo II reafirmou essa primazia do gregoriano: “no tocante às composições musicais litúrgicas, faço minha a ‘regra geral’ formulada por São Pio X nestes termos: ‘Uma composição religiosa é tanto mais sagrada e litúrgica quanto mais se aproxima — no andamento, na inspiração e no sabor — da melodia gregoriana; e é tanto menos digna do templo quanto mais se distancia desse modelo supremo” (Quirógrafo de João Paulo II sobre a Música Litúrgica, 12).

Testemunha do relevante papel que a música sacra tem na vida espiritual dos católicos desde os primeiros tempos do cristianismo, Santo Agostinho em uma de suas mais célebres obras, as Confissões, afirmou que o contato com as piedosas melodias litúrgicas das cerimônias presididas por Santo Ambrósio, o ajudaram a encontrar o caminho da Verdade: “Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração. Um grande impulso de piedade me elevava, as lágrimas corriam-me pela face, e me sentia plenamente feliz” (Confessionum, 9, 6: PL 769,14.).

Oficio dominical cantado em estilo gregoriano na Igreja Nossa Senhora do Rosário pertencente aos Arautos do Evangelho de São Paulo, Brasil

Oficio dominical cantado em estilo gregoriano na Igreja Nossa Senhora do Rosário pertencente aos Arautos do Evangelho de São Paulo, Brasil

Movidos pela admiração para com o cântico oficial da liturgia católica os Arautos do Evangelho procuram divulgar em nosso imenso Brasil este inestimável tesouro litúrgico, publicando esta obra que reúne Os mais belos cânticos gregorianos. Que essas melodias ressoem nos templos sagrados do nosso país para o bem espiritual dos fieis e a glorificação de Jesus Eucarístico, conforme as recentes orientações litúrgicas dadas pelo Papa Bento XVI: “Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico. […] Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo – no texto, na melodia, na execução – deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Enfim, embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo – como foi pedido pelos padres sinodais – que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana” (Sacramentum Caritatis, 42).

O livro contem 282 páginas e é publicado em São Paulo pelos Arautos do Evangelho com o apoio da Editora Lumen Sapientiae.

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out 052011
 

Milenarismo e Montanismo

Ensaio do Pe. José Arnóbio Glavan, EP

Houve, na primitiva Igreja, uma piedosa concepção sobre a segunda vinda gloriosa de Jesus Cristo, mas falseada pelo exagero, porque se a considerava iminente. Tal idéia, mais tarde, levou alguns a interpretações distorcidas de textos de São Paulo e de São João, especialmente do Apocalipse, fazendo-os imaginar uma próxima volta de Cristo para dar início a um reino terreno de paz, harmonia e delícias, que deveria durar mil anos. É o chamado Milenarismo. Afim com tais ideias, aparecem também doutrinas a respeito de uma era do Espírito Santo, na qual as comunidades cristãs, e mesmo os indivíduos enquanto tais, seriam agraciados por uma manifestação constante do Espírito Santo e governados diretamente pelo Espírito, de maneira que poderiam prescindir da organização e disciplina  eclesiásticas e do Magistério da Igreja. Surgia assim a primeira heresia —  ou quase heresia pois não se tratava propriamente da afirmação de uma falsa doutrina mas de exageros e fanatismos.

Basílica de São Pedro

Basílica de São Pedro

Pelo fim do segundo século, Montano —  sacerdote pagão originário da Frígia, e convertido ao cristianismo — pretendia ser o único depositário dos carismas do Espírito Santo — que floresceram no início da pregação apostólica, mas que vinham se tornando cada vez mais raros — especialmente do dom da profecia. Acompanhado por duas mulheres, Maximila e Priscila,  tão visionárias e fanáticas quanto ele, que tinham abandonado os maridos para segui-lo, lançou-se à propagação de suas doutrinas. Tal heresia se espalhou muito, sobretudo no Oriente e foi vigorosamente combatida pelos Padres e apologetas. Persistiu ainda  em alguns grupos de fanáticos até o século IV, quando foi condenada pelo Papa São Zeferino (199-217). Ressurgiu, entretanto, com  roupagens novas, séculos mais tarde em plena Idade Média, com  Joaquim de Fiore (1130-1202) e seus seguidores, como veremos oportunamente.

jul 092011
 

São Bento de Núrsia

São Bento de Núrsia (480-547) fundador da Ordem dos Beneditinos, hoje uma das maiores ordens monásticas do mundo, foi o autor “Regra de São Bento”, um dos mais importantes documentos utilizados como regulamento da vida monástica, fonte de inspiração de outras comunidades religiosas ao longo da História (LLORCA, Bernardino et al. Historia de la Iglesia Católica. 7 ed. Madrid: BAC, 2009. p. 615; COLOMBÁS et alia. San Bento, su vida y su regla. Madrid: Bac, 1954. p. 124).

Sua Regula Monasteriorum, escrita em latim, conta com 73 capítulos e um prólogo, foi retomada por São Bento de Aniane (século IX) antes das invasões normandas; que a estudou e codificou, dando origem a sua expansão por toda Europa carolíngia, pois a regra de São Bento é uma normatização da vida monástica mais completa e abrandente que as anteriores (ROPS, Daniel. A Igreja dos Tempos Bárbaros. Trad. Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1991).

Através da Ordem de Cluny e da centralização de todos os mosteiros que utilizavam a Regula, o modelo de São Bento foi adquirindo grande importância na vida religiosa européia durante a alta Idade Média. Como será considerado, seu exemplo fez surgiu nos séculos subsequentes diversas reformas, as quais buscavam recuperar um regime beneditino mais de acordo com a regra primitiva. Outras reformas (como a camaldulense, a olivetana ou a silvestriana), buscaram também dar ênfase a diferentes aspectos da Regra de São Bento (SASTRE SANTOS, Eutimio. La vita Religiosa nella storia della Chiesa e della società. Milano: Ancora, 1997. p. 140).

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Apesar dos diferentes momentos históricos, nos quais a disciplina, as perseguições ou as agitações políticas causaram uma certa decadência da prática da Regra de São Bento, os mosteiros beneditinos conseguiram manter, durante todos os tempos, um grande número de religiosos e religiosas. Atualmente, a ordem posssui cerca de 700 mosteiros masculinos e 900 mosteiros e casas religiosas femininas, espalhados pelos cinco continentes.

Ao descrever na figura do abade, o segundo capítulo da regula parece aludir a própria missão dos fundadores, que “faz as vezes do Cristo, pois é chamado pelo mesmo cognome que Este, no dizer do Apóstolo” (cf. Rm 8,15; Gal 4,6; SÃO BENTO DE NÚRCIA. Regra de São Bento. Bilingue. Trad. João ENOUT. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1990. p. 21). Em São Bento verifica-se ademais a diferença que há entre o fundador e o patriarca. Este último é uma espécie de ilustre fundador, a cuja família vê-se agregar congregações diversas ao longo dos séculos, como ocorreu posteriormente com São Francisco e São Domingos. Estes fundadores-patriarcas não fundaram todas numerosas congregações de votos simples que portam seu nome, mas essas instituições se nutrem de seu espírito e carisma.

Para Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias (2008), “o essencial da obra de Bento de Núrsia consistiu em fermentar uma sociedade cindida por revoltas, crises e guerras, transformando-a, aos poucos, na era ‘em que a filosofia do Evangelho governou os Estados’”[1]. Para Daniel Rops, a obra de São Bento realizou na prática sobre todo o mundo medieval o pensamento e o objetivo de Santo Agostinho (ROPS, 1991). Llorca afirma que,

“No grande eclipse da civilização antiga que sobreveio no tempo das invasões, apenas permaneceu outra luz, excetuando o florescente império visigótico, que aquela que teve de se refugiar na brilhante constelação de mosteiros espalhados pela França e os países setentrionais, especialmente na remota Irlanda. Os monges foram os transmissores do saber antigo para os séculos futuros” (LLORCA ET AL., 2003, v.2, p. 254, tradução minha).

Tópicos relacionados

Para baixar a Regra de São Bento – Download gratuito

História de São Bento de Núrsia – O varão do qual nasceu uma civilização (Português)

Historia de San Benito, abad y patriarca de las religiones monacales de occidente (Español)


[1] Cf. Leão XIII, Immortale Dei, IV, 28. Disponível em: <www.vatican.va>. Acesso em: 18 mar. 2008.

jun 282011
 

A origem da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Marcos Eduardo Melo dos Santos

A base escriturística desta devoção remonta àquele trecho do Evangelho de  João (13,23) o qual narra o reclinar-se do discípulo amado ao peito de Jesus. Há inúmeras referências na época dos Padres da Igreja e na Idade Média. No entanto, quem hoje vê o nome do Sagrado Coração honrar a divisa de diversas ordens religiosas, paróquias, instituições de ensino e de assistência social, não pode imaginar com facilidade os dramas e dificuldades no surgimento desta devoção[1].

Após uma fase de eclipse, esta devoção ganhou novo impulso após as visões de Santa Margarida Maria Alacoque (1647–1690), difundidas por seu confessor São Claude de la Colombière (1673-1675)[2].

Após 150 anos de enormes dificuldades impostas especialmente pelos jansenistas e o terror da Revolução Francesa, em 1856, Pio IX instituiu a festa litúrgica do Sagrado Coração de Jesus, propondo, segundo a recomendação dos santos, a consagração do mundo ao Coração de Jesus.

Duzentos anos após Santa Margarida pedir ao Rei Luís XIV a consagração da França, o presidente do Equador, Gabriel Garcia Moreno, consagrou seu país em 1873, ao Coração de Jesus.

Cor Iesu

Cor Iesu

Diversos Papas incentivarem esta devoção através de encíclicas[3]. Atualmente a festa do Sagrado Coração é celebrada 19 dias após a solenidade de Pentecostes.

A devoção ao sagrado Coração de Jesus se difundiu em tocantes formas de piedade popular. Em 1872, Pio IX concedeu indulgências especiais aos que portassem o escapulário com a imagem do Sagrado Coração.

Semelhantes ao escapulário, havia também os chamados “detentes” com a imagem do Coração de Jesus. Os católicos que os portavam asseguram serem protegidos durante as perseguições religiosas ou conflitos armados, como os Chouans na França, os Cristeros no México e os combatentes das grandes guerras mundiais.

A variante talvez mais tocante da piedade ao Coração de Jesus esta na união com a devoção ao Imaculado Coração de Maria segundo a recomendação de vários santos como, São João Eudes, Santa Margarida Maria Alacoque, São Luís Grignion de Montfort, Santa Catarina Labouré e São Maximiliano Kolbe.

A devoção aos Corações de Jesus e Maria é difundida nos ritos católicos e orientais, e inclusive entre anglicanos e luteranos, crescendo nas últimas décadas com a difusão da Medalha Milagrosa, e, sobretudo, após a Mensagem de Fátima.

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus em português e latim

A fim de que o leitor cresça mais e mais nesta devoção e aporfunde-se no conhecimento da língua latina oferecemos a ladainha do Sagrado Coração de Jesus em português e latim.

Em Português Latine
Senhor, tende piedade de nós. Kyrie, eléison.
Jesus Cristo, tende piedade de nós. Christe, eléison.
R/.Senhor, tende piedade de nós. R/. Kyrie, eléison.
Jesus Cristo, ouvi-nos. Christe, audi nos.
R/.Jesus Cristo, atendei-nos. R/. Christe, exáudi nos.
Deus, Pai dos Céus, tende piedade de nós. Páter de cælis, Deus, miserére nobis.
Deus Filho, Redentor do mundo, (a cada invocação responde-se “tende piedade de nós”) Fili, Redémptor mundi, Deus,
Deus Espírito Santo, Spíritus Sancte, Deus,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, Sancta Trínitas, unus Deus,
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, Cor Jesu, Fílii Patris ætérni,
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, Cor Jesu, in sinu Vírginis Matris a Spíritu Sancto formátum,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, Cor Jesu, Verbo Dei substantiáliter unítum,
Coração de Jesus, de majestade infinita, Cor Jesu, majestátis infinítæ,
Coração de Jesus, templo santo de Deus, Cor Jesu, templum Dei sanctum,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, Cor Jesu, tabernáculum Altíssimi,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu, Cor Jesu, domus Dei et porta cæli,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, Cor Jesu, fornax ardens caritátis,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor, Cor Jesu, justítiæ et amóris receptáculum,
Coração de Jesus, cheio de bondade e de amor, Cor Jesu, bonitáte et amóre plenum,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, Cor Jesu, virtútum ómnium abyssus,
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, Cor Jesu, omni laude digníssimum,
Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações, Cor Jesu, rex et centrum ómnium córdium,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, Cor Jesu, in quo sunt omnes thesáuri sapiéntiæ et sciéntiæ,
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, Cor Jesu, in quo hábitat omnis plenitúdo divinitátis,
Coração de Jesus, no qual o Pai põe as suas complacências, Cor Jesu, in quo Pater sibi bene complácuit,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, Cor Jesu, de cujus plenitúdine omnes nos accépimus,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, Cor Jesu, desidérium cóllium æternórum,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, Cor Jesu, pátiens et multæ misericórdiæ,
Coração de Jesus, rico para todos os que Vos invocam, Cor Jesu, dives in omnes qui ínvocant te,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, Cor Jesu, fons vitæ et sanctitátis,
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados, Cor Jesu, propitiátio pro peccátis nostris,
Coração de Jesus, saturado de opróbrios, Cor Jesu, saturátum oppróbriis,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, Cor Jesu, attrítum propter scélera nostra,
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, Cor Jesu, usque ad mortem obédiens factum,
Coração de Jesus, atravessado pela lança, Cor Jesu, láncea perforátum,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, Cor Jesu, fons totíus consolatiónis,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, Cor Jesu, vita et resurréctio nostra,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, Cor Jesu, pax et reconciliátio nostra,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, Cor Jesu, víctima peccatórum,
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em Vós, Cor Jesu, salus in te sperántium,
Coração de Jesus, esperança dos que expiram em Vós, Cor Jesu, spes in te moriéntium,
Coração de Jesus, delícia de todos os santos, Cor Jesu, delíciæ sanctórum ómnium,
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. perdoai-nos, Senhor. R/. Parce nobis Dómine.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. atendei-nos, Senhor. R/. Exáudi nos Dómine.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, V/. Agnus Dei, qui tollis peccáta mundi,
R/. tende piedade de nós. R/. Miserére nobis.
V/. Jesus, manso e humilde de Coração, V/. Jesu, mitis et húmilis Corde,
R/. Fazei nosso coração semelhante ao vosso. R/. Fac cor nostrum secúndum Cor tuum.
Oremos. Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração de vosso Filho diletíssimo e para os louvores e as satisfações que Ele, em nome dos pecadores, Vos tributa; e aos que imploram a vossa misericórdia concedei benigno o perdão, em nome do vosso mesmo Filho Jesus Cristo, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amém. Orémus. Omnípotens sempitérne Deus, réspice in Cor dilectíssimi Fílii tui, et in laudes et satisfactiónes, quas in nómine peccatórum tibi persólvit, iísque misericórdiam tuam peténtibus tu véniam concéde placátus, in nómine ejúsdem Fílii tui Jesu Christi, qui tecum vivit et regnat in saécula sæculórum. Amen.

[1] GIGON, Paul. Notre-Dame du Sacré-Coeur. Toulon : Missionaire du Sacré-Coeur, 1957. p. 295.

[2] ABRANCHES, Joaquim. O amor do Coração de Crito. Braga: Editorial A. O. 1990. p. 119.

[3] Leão XIII na Annum Sacrum (1899) com a Oração para consagração ao Sagrado Coração; São Pio X; Pio XI na Miserentissimus Redemptor (1928); Pio XII na Haurietis aquas (1956);  João Paulo II na Redemptor Hominis (1979) e Bento XVI em carta ao Pe. Kolvenbach Geral da Comapanhia de Jesus.

jun 212011
 

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP,
Fundador dos Arautos do Evangelho

Mons. João Scognamiglio Clás Dias elevando o Santíssimo Sacramento na Igreja Nossa Senhora do Rosário, Brasil

Mons. João Scognamiglio Clás Dias elevando o Santíssimo Sacramento na Igreja Nossa Senhora do Rosário, Brasil

Como nasceu a comemoração de “Corpus Christi”

A festa litúrgica em louvor ao Santíssimo Sacramento foi instituída em 1264 por Urbano IV. Ela deveria marcar os tempos futuros da Igreja, tendo como finalidade cantar a Jesus Eucarístico, agradecendo-Lhe solenemente por ter querido ficar conosco até o fim dos séculos sob as espécies de pão e vinho. Nada mais adequado do que a Igreja comemorar esse dom incomparável.
Logo nos primeiros séculos, a Quinta-Feira Santa tinha o caráter eucarístico, segundo mostram documentos que chegaram até nós. A Eucaristia já era o centro e coração da vida sobrenatural da Igreja. Todavia, fora da Missa não se prestava culto público a esse sacramento. O pão consagrado costumava ficar guardado numa espécie de sacristia, e mais tarde lhe foi reservado um nicho num ângulo obscuro do templo, onde se punha um cibório em forma de pomba, suspenso sobre o altar, sempre tendo em vista a eventual necessidade de atender a algum enfermo.
Mas durante a Idade Média, os fiéis foram sendo cada vez mais atraídos pela sagrada humanidade do Salvador. A espiritualidade passou a considerar de modo especial os episódios da Paixão. Criou-se por isso um clima propício para que se desenvolvesse a devoção à Sagrada Eucaristia.
O último impulso veio das visões de Santa Juliana de Monte Cornillon, uma freira agostiniana belga, a quem Jesus pediu a instituição de uma festa anual para agradecer o sacramento da Eucaristia. A religiosa transmitiu esse pedido ao arcediago de Liège, o qual, sendo eleito Papa 31 anos depois, adotou o nome de Urbano IV.
Pouco depois esse Pontífice instituía a festa de Corpus Christi, que acabou por se tornar um dos pontos culminantes do ano litúrgico em toda a Cristandade.

O “Lauda Sion”

A seqüência da Missa de Corpus Christi é constituída por um belíssimo hino gregoriano, intitulado Lauda Sion. Belíssimo por sua variada e suave melodia, e muito mais pela letra, ele canta a excelsitude do dom de Deus para conosco e a presença real de Jesus, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, no pão e no vinho consagrados.
A própria origem desse cântico é envolta no maravilhoso tipicamente medieval. Urbano IV encontrava-se em Orvieto, quando decidiu estabelecer a comemoração de Corpus Christi. Estavam coincidentemente naquela cidade dois dos mais renomados teólogos de todos os tempos, São Boaventura e São Tomás de Aquino. O Papa os convocou, assim como a outros teólogos, encomendando-lhes um hino para a seqüência da Missa dessa festa.

Apoteose de São Tomás de Aquino por Zurbarán

Apoteose de São Tomás de Aquino por Zurbarán


Conta-se que, terminada a tarefa, apresentaram-se todos diante do Papa e cada um devia ler sua composição. O primeiro a fazê-lo foi São Tomás de Aquino, que apresentou então os versos do Lauda Sion. São Boaventura, ato contínuo àquela leitura, queimou seu próprio pergaminho, não sem causar espanto em São Tomás, que perguntou “por quê?”. O santo franciscano, com toda a humildade, explicou-lhe que sua consciência não o deixaria em paz se ele causasse qualquer empecilho, por mínimo que fosse, à rápida difusão de tão magnífica Seqüência escrita pelo dominicano.

Síntese teológica, em forma de poesia

Aquilo que São Tomás ensinou em seus tratados de Teologia a respeito da Sagrada Eucaristia, ele o expôs magistralmente em forma de poesia no Lauda Sion.
Trata-se de verdadeira peça de literatura, que brilha pela profundidade do conteúdo e pela beleza da forma, elevação da doutrina, acurada precisão teológica e intensidade do sentimento. O ritmo flui de modo suave, até mesmo nas estrofes mais didáticas. A melodia — cujo autor é desconhecido — combina belamente com o texto. A unção é inesgotável.
São Tomás se revela como filósofo e místico, como teólogo da mente e do coração, realizando sua própria exortação: “Seja o louvor pleno, retumbante, alegre e cheio do brilhante júbilo da alma”.

Letra em latim e português do Louva Sião (Lauda Sion)

Em Português (lusitane)
Em latim (latine)
Para ouvir o hino, clique aqui.

1. Louva Sião, o Salvador, louva o guia e pastor com hinos e cânticos.
1. Lauda Síon Salvatórem, láuda dúcem et pastórem, in hymnis et cánticis.

2. Tanto quanto possas, ouses tu louvá-lo, porque está acima de todo o louvor e nunca o louvarás condignamente.
2. Quantum pótes tantum áude: quia máior ómni láude, nec laudáre súfficis.

3. É-nos hoje proposto um tema especial de louvor: o pão vivo que dá a vida.
3. Láudis théma speciális, pánis vívus et vitális hódie propónitur.

4. É Ele que na mesa da sagrada ceia foi distribuído aos doze, como na verdade o cremos.
4. Quem in sácrae ménsa coénae, túrbae frátrum duodénae dátum nom ambígitur.

5. Seja o louvor pleno, retumbante, que ele seja alegre e cheio de brilhante júbilo da alma.
5. Sit laus pléna, sit sonóra, sit iucúnda, sit decóra méntis iubilátio.

6. Porque celebramos o dia solene que nos recorda a instituição deste banquete.
6. Díes enim solémnis ágitur, in qua ménsae príma recólitur huius institútio.

7. Na mesa do novo Rei, a páscoa da nova lei põe fim à páscoa antiga.
7. In hac ménsa nóvi Régis, nóvum Páscha nóvae légis pháse vétus términat.

8. O rito novo rejeita o velho, a realidade dissipa as sombras como o dia dissipa a noite.
8. Vetustátem nóvitas, umbram fúgat véritas, nóctem lux elíminat.

9. O que o Senhor fez na Ceia, nos mandou fazê-lo em memória sua.
9. Quod in coéna Chrístus géssit, faciéndum hoc expréssit in súi memóriam.

10. E nós, instruídos por suas ordens sagradas, consagramos o pão e o vinho em hóstia de salvação.
10. Dócti sácris institútis, pánem, vínum in salútis consecrámus hóstiam.

11. É dogma de Fé para os cristãos que o pão se converte na carne e o vinho no sangue do Salvador.
11. Dógma dátur christiánis, quod in cárnem tránsit pánis, et vínum in sánguinem.

12. O que não compreendes nem vês, uma Fé vigorosa te assegura, elevando-te acima da ordem natural.
12. Quod non cápis, quod non vídes, animósa fírmat fídes, praeter rérum órdinem.

13. Debaixo de espécies diferentes, aparências e não realidades, ocultam-se realidades sublimes.
13. Sub divérsis speciébus, sígnis tantum, et non rébus, latent res exímiae.

14. A carne é alimento e o sangue é bebida; todavia debaixo de cada uma das espécies Cristo está totalmente.
14. Cáro cíbus, sánguis pótus: mánet tamen Christus tótus sub utráque spécie.

15. E quem o recebe não o parte nem divide, mas recebe-o todo inteiro.
15. A suménte non concísus, non confráctus, non divísus: integer accípitur.

16. Quer o recebam mil, quer um só, todos recebem o mesmo, nem recebendo-o podem consumi-lo.
16. Súmit únus, súmunt mílle: quantum ísti tantum ílle: nec súmptus consúmitur.

17. Recebem-no os bons e os maus igualmente, todos recebem o mesmo, porém com efeitos diversos: os bons para a vida e os maus para a morte.
17. Súmunt bóni, súmunt máli: sórte tamen inaequáli, vítae vel intéritus.

18. Morte para os maus e vida para os bons: vêde como são diferentes os efeitos que produz o mesmo alimento.
18. Mors est mális, víta bónis: víde páris sumptiónis quam sit díspar éxitus.

19. Quando a hóstia é dividida, não vaciles, mas recorda que o Senhor encontra-se todo debaixo do fragmento, quanto na hóstia inteira.
19. Frácto demum Sacraménto, ne vacílles, sed meménto tantum ésse sub fragménto, quantum tóto tégitur.

20. Nenhuma divisão pode violar a substância: apenas os sinais do pão, que vês com os olhos da carne, foram divididos! Nem o estado, nem as dimensões do Corpo de Cristo são alterados.
20. Núlla réi fit scissúra: sígni tantum fit fractúra, qua nec státus, nec statúra signáti minúitur.

21. Eis o pão dos Anjos que se torna alimento dos peregrinos: verdadeiramente é o pão dos filhos de Deus que não deve ser lançado aos cães.
21. Ecce pánis Angelórum, fáctus cíbus viatórum: vere pánis filiórum, non mitténdus cánibus.

22. As figuras o simbolizam: é Isaac que se imola, o cordeiro que se destina à Páscoa, o maná dado a nossos pais.
22. In figúris praesignátur, cum Isaac immolátur, agnus Páschae deputátur, dátur mánna pátribus.

23. Bom Pastor, pão verdadeiro, Jesus, de nós tende piedade. Sustentai-nos, defendei-nos, fazei-nos na terra dos vivos contemplar o Bem supremo.
23. Bóne Pástor, pánis vére, Jésu, nóstri miserére: Tu nos pásce, nos tuére, Tu nos bóna fac vidére in térra vivéntium.

24. Ó Vós que tudo sabeis e tudo podeis, que nos alimentais nesta vida mortal, admiti-nos no Céu, à vossa mesa e fazei-nos co-herdeiros na companhia dos que habitam a cidade santa.
24. Tu qui cúncta scis et váles, qui nos páscis hic mortáles: túos ibi commensáles, cohaerédes et sodáles fac sanctórum cívium.

Amém. Aleluia.